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terça-feira, dezembro 09, 2003

A SAPA BORRACHEIRA PARTE 4

(sim, eu mudei o nome da história porque eu achei ainda mais legal e porque isso deixa ela mais parecida com a original, sempre com a cara suja.)

Cindy chegou na festa com seu Niva cor de abóbora, estacionou na frente do Genésio e andou até o Matrix. No caminho já atraiu atenções e levou cantadas, como a de um vendedor de cachorros-quentes que gentilmente lhe ofereceu uma salsicha. Deixou seu nome na porta, contando as moedas pra ver se tinha grana pra pagar a consumação. Tinha, ótimo, entrou rapidamente, timidamente, olhando para baixo, sentindo-se reparada por sua indumentária, afinal, nunca usava saia, e dirigiu-se decidida para o bar. Pediu uma cerveja: de garrafinha, por favor, fica mais feminino. Bebeu o primeiro gole e teve finalmente coragem de olhar ao redor.

Silêncio. Olhares. Disfarces. Percebeu vários interesses. A garota de calça larga e cuequinha aparecendo, sozinha, encostada na parede. A loirinha safada que beijava a namorada com os olhos abertos. O grupinho de moderninhas que ria muito e comentava sobre aquela nova presença. Sentiu-se mais confiante e foi dançar.

Aline tocava seu roquezinho demipop, demiretrô e todo mundo se divertia muito. Cindy só olhava e balançava levemente o ombro. Veio uma garçonete e lhe deu uma cerveja, oferecida por uma admiradora secreta. Aline acabou seu set e veio Barbie com seu electro-sexy-lesbian-chic. Cindy, mais alcoolizada já balançava o corpo todo e sorria para o ar. Depois entrou Cuelha tocando Groove Armada, Cindy pulava. Mais uma cerveja de outra admiradora, não a mesma, frisou a garçonete. Aí veio dj Baig tocando tudo o que via pela frente, terminando o set colocando um funk com a Veriginosa. Cindy rebolava. A essa altura ela já dançava com todo mundo que passava pela frente e não conseguia escolher com quem ficar, de tantas opções que tinha.

Foi então que começou a tocar aquela musiquinha do Moulin Rouge, voulez-vous coucher avec moi, etc. Dançou enlouquecidamente, com direito a abaixadinha até o chão. E foi neste momento, lá embaixo, com as pernas dobradas e abertas, que Cindy lembrou da Vaca Madrinha sentada na sua cadeirinha de fórmica. Foi como uma revelação: não importava quantas mulheres a queriam por sua beleza, era Roberta Miranda quem realmente se importava com ela, que cuidava dela.

Saiu correndo desesperada do Matrix, pra ver se ainda encontrava a Vaca. No caminho, um dos seus all starzinhos de cristal saiu do seu pé, voou pela rua Fidalga e caiu em cima de um carro, causando um enorme estrago que o seguro não cobriu. Pegou o Niva cor-de-abóbora e acelerou o mais que pode, mas no caminho deu 3 da manhã e ele voltou a ser uma porção de picadinho. Cindy então esperou um pouco, pegou uma linha noturna de ônibus e conseguiu chegar em casa de madrugada. Correu para a cozinha e a Vaca não estava mais lá. Houve uma nuvem de lágrimas sobre seus olhos.

Ficou seis meses deprimida mas depois aprendeu que a vida é assim mesmo.

Fim.

Charlotte Perrault.

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