quinta-feira, março 18, 2004
A VELHA VERTI
Sentada em sua cadeira de balanço, cabelos grisalhos, curtos, com um palito no canto da boca, camisa de flanela xadrez, bota de lenhador, acariciando a gata Navratilova, a avó lésbica conta histórias para seus 5 netos.
- No meu tempo, bissexual era como coelhinho da páscoa, papai noel e show da laura f., nunca ninguém via.
- Como assim, vó, todo mundo nasce bissexual!
- Mas na época eles não sabiam, as pessoas tinham que escolher logo que nasciam. A maioria era obrigada a ser hetero!
- Jura, vó?
- Caramba, vó, então passavam a vida inteira sem ter uma relação homo?
- A vida inteira.
- E como as pessoas escolhiam?
- Os pais escolhiam por ela. Na verdade, era meio definido: todo mundo era hetero, menos uns malucos, como a avó de vcs, que tinham idéias revolucionárias e se recusavam a obedecer. Era uma perseguição. Tinha até gente que era expulso de casa.
- Vcs não podiam contar pra ninguém que eram bi ou homo?
- Pra quase ninguém, as pessoas olhavam feio e tinham nojo de tocar no seu dedo médio.
- Então como vcs namoravam.
- Havia um clube.
- Clube?
- Sim. Uma sociedade secreta.
- Tipo massonaria? Uau, vó!
- É, tempos difíceis aqueles. Uma vez a cada quinze dias, as mulheres que escolhem se reuniam para a celebração. Primeiro, ingeriam líquidos que as deixavam lascivas. Depois, um equipamento bem precário de produção sonora emitia mantras tribais hipnóticos chamados “Electro”. Ao som destes mantras, as mulheres que escolhem perdiam o controle de seus corpos e se deixavam conhecer, tocar, excitar e...
“Pi! Pi! Pi!”
- Calma, vó, tá sobrecarregando o marcapasso.
- Verdade. Tenho saudades daquele tempo. Era proibido, mas era tão gostoso...
- Como era o nome desse ritual vó?
- Era o famigerado, celebrado por poucas, odiado por muitos, temido pela TFP, Chá com Bolachas!
antropologicamente,
Sentada em sua cadeira de balanço, cabelos grisalhos, curtos, com um palito no canto da boca, camisa de flanela xadrez, bota de lenhador, acariciando a gata Navratilova, a avó lésbica conta histórias para seus 5 netos.
- No meu tempo, bissexual era como coelhinho da páscoa, papai noel e show da laura f., nunca ninguém via.
- Como assim, vó, todo mundo nasce bissexual!
- Mas na época eles não sabiam, as pessoas tinham que escolher logo que nasciam. A maioria era obrigada a ser hetero!
- Jura, vó?
- Caramba, vó, então passavam a vida inteira sem ter uma relação homo?
- A vida inteira.
- E como as pessoas escolhiam?
- Os pais escolhiam por ela. Na verdade, era meio definido: todo mundo era hetero, menos uns malucos, como a avó de vcs, que tinham idéias revolucionárias e se recusavam a obedecer. Era uma perseguição. Tinha até gente que era expulso de casa.
- Vcs não podiam contar pra ninguém que eram bi ou homo?
- Pra quase ninguém, as pessoas olhavam feio e tinham nojo de tocar no seu dedo médio.
- Então como vcs namoravam.
- Havia um clube.
- Clube?
- Sim. Uma sociedade secreta.
- Tipo massonaria? Uau, vó!
- É, tempos difíceis aqueles. Uma vez a cada quinze dias, as mulheres que escolhem se reuniam para a celebração. Primeiro, ingeriam líquidos que as deixavam lascivas. Depois, um equipamento bem precário de produção sonora emitia mantras tribais hipnóticos chamados “Electro”. Ao som destes mantras, as mulheres que escolhem perdiam o controle de seus corpos e se deixavam conhecer, tocar, excitar e...
“Pi! Pi! Pi!”
- Calma, vó, tá sobrecarregando o marcapasso.
- Verdade. Tenho saudades daquele tempo. Era proibido, mas era tão gostoso...
- Como era o nome desse ritual vó?
- Era o famigerado, celebrado por poucas, odiado por muitos, temido pela TFP, Chá com Bolachas!
antropologicamente,