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terça-feira, abril 27, 2004

Castro, a Drag King brasileira.

Castro chega de pick up num posto de gasolina na beira de uma estrada, entre o nada e o coisa nenhuma. Abre a porta, pisa com sua carrapeta no chão empoeirado. Desce. Anda em direção ao pequeno e pobre café do posto. Alguns caminhoneiros lá dentro. Sua bota faz um barulho interessante esmagando a terra do chão. Castro começa.

- Bom dia.
- Dia.
- A senhora pode me dar a chave do banheiro?
- Momentinho.

A senhora dá as costas para procurar numa gaveta cheia de chaves com chaveiros feitos com pedaços velhos de madeira amarrados por barbantes ensebados. Castro continua.

- Viu, senhora. É do banheiro feminino. Viu? Feminino.

A mulher nem liga. Castro se debruça sobre o balcão e toma uma postura mais cúmplice. Castro fala mais baixo.

- Eu sei que não parece, mas eu sou uma mulher...
- Tá aqui a chave, moça, a senhora do posto interrompe entediada, é a segunda porta a direita, tem uma lua desenhada.

Castro vai ao banheiro. Volta, se espreguiçando pelo caminho.

- Aqui a chave, obrigada.
- Nada.
- A senhora não ficou surpresa?
- Hein?
- Que eu sou uma mulher? Eu sei que é chocante pra alguns, mas esse sou eu, e eu me sinto homem.

A mulher do posto não muda sua expressão de tédio.

- Moça, se a senhora usou drogas no meu banheiro tudo bem, já passou, mas agora vou ter que pedir pra senhora ir embora.
- É sempre assim. Se eu sou um homem, óóóóó. Claro, senhor. Pois não senhor. Mas assim que descobrem que eu sou uma mulher, o preconceito se impõe. Fuck sociedade! Fuck machismo! Fuck preconceito!

Castro sai andando, pegando na meia que tem dentro da calça como se fosse um pau. Castro está juntando dinheiro pra comprar um pau de silicone. Operação é caro demais. Uma das meias cai pela perna da calça jeans e fica no chão, na lojinha do posto. A senhora pensa em devolver, mas só de imaginar aquela mulher esquisita voltando, desiste.

transformadamente,

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