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quinta-feira, julho 27, 2006

Em mais um lançamento da editora “Companhia das Lésbicas”, apresentamos a vocês, leitoras, em primeira mão, cheia de dedos, a coleção de guia de viagens

GUIDE ME, I’M A LESBIAN

Ou

LONELY LESBIAN PLANET


Você quer fazer turismo, ir a monumentos, visitar Miss Liberty ou sentar na Torre Eiffel, tudo bem, vá. Para este tipo de endereço, as prateleiras e websites da vida estão cheios de informação precisa e relevante. Mas existe um outro tipo de turismo, o turismo dos becos, das notívagas, das carentes, solitárias e reprimidas, das de auto-estima oscilante, curiosas e corajosas, um pouco sem noção, sem companhia (ou com, tanto faz) e que dividem uma curiosidade socio-pato-antropo-estéto-lesbo-lógica sobre a vida lés nas principais cidades do mundo. E dicas sobre como ir, chegar, descobrir, se comportar e sobre como fugir das mais embaraçosas situações (ou não), você só encontra aqui, nos guias da coleção Lonely Lesbian Planet.

Leia aqui mais um trecho inédito de um dos guias da coleção:

“Pois bem, ontem a editora estava cansada depois de uma noite sem dormir e um berbecue corporativo com cerveja no meio da tarde e tinha poucas esperanças de deixar o hotel para alguma aventura. Mas depois de uma soneca das 6 da tarde às 10 da noite – o que equivale praticamente a uma noite de sono – a editora tomou coragem, um café, vestiu uma roupinha de guerra sem salto, porque as patinhas estavam cansadas, abriu o Zagat’s e suas anotações retiradas de profundas pesquisas na internet, cruzou as informações com o dia da semana, conferiu comentários esporádicos em perfis selecionados do myspace, verificou listagens e comentários em blogs, escolheu o que parecia mais promissor e foi pra Burlesque Room, uma festa quinzenal de garotas que acontece no bar do hotel Chelsea, que nos outros dias é um lounge para hts descoladinhos.

O Zagat’s falava que o lugar tinha um porteiro daqueles que fica selecionando pessoas que atingiram status suficiente para atravessar ou não a corda de veludo da porta. O planet out dizia “dress fancy”. Eu não tava muito afim de produção, então fui do jeito que estava e descobri que o porteiro era simpático, não tinha fila e dava pra entrar de qualquer jeito. Descobri também que os hts estavam adorando ter uma festa para observar o comportamento notívago das lésbicas e no final das contas, eram maioria. A coisa estava bem hétero. Mas como a música era ótima, o lugar era legal e as bartenders bonitinhas e acrobáticas, eu fiquei por lá, sipping rum and reading borges.

Depois de um certo tempo, fui pro pátio dos fumantes (um buraco menor que uma vaga de garagem, todo sujo e com poças de água no chão) onde um homem muito gordo e cheio de colares lia tarô em espanhol.

E então deu meia noite. Pontualmente meia noite. As princesinhas começaram a virar gatas borralheiras. Grupos de cindelésbicas começaram a chegar. Olhei pra cima, para a escada que dava acesso ao bar, e as via descendo. Como muitas usavam saia e tinham que descer a escada, eu vi várias calcinhas, o que já vale uma noite. Os hts começaram a ir embora a medida em que dezenas de garotas gays muito bonitas e estilosas chegavam ao bar. Apesar da quantidade de sainhas, tinha também várias imitando a Shane. Algumas até imitando a Moira/Max. Ser tomboyish está na moda. Ou você quer ser um, ou você quer ter um.

O lugar pegou fogo. Literalmente. Pedi uma cerveja no balcão, a bartender colocou na minha frente vigorosamente, a cerveja transbordou. Ao lado da garrafa, apareceu um pé numa bota de caubói. Segui com os olhos aquele pé, passei por uma perna, por um biquíni e cheguei numa... Bom, resumindo, era uma garota de biquíni, botas e chapéu de caubói fazendo um número de engolir fogo em cima do balcão do bar. Fiquei vendo aquilo de baixo, dividida entre o medo de levar uma labareda no cabelo e o medo de perder aquele lugar privilegiado.

Fiquei até o fim do show e voltei pro pátio. Tava muito calor pra ficar dentro do bar. Conversei com uma das frequentadoras que reclamava sobre o excesso de baby lesbians naquele bar. Muitas garotas de 21 anos. Adorei o termo. Imaginei saquinhos no supermercado, ao lado das baby carrots e dos baby milhos, cheios de menininhas tatuadas dentro. Uma coisinha que você come de vez em quando, mas que não mata a sua fome. Mesmo assim, você não abre mão de algumas pra decorar um jantar, uma festinha. Baby lesbians. So cute.

A garota me deu o telefone pra sairmos juntas na sexta – não pense bobagens, é só amizade, ela namora uma californiana que curte sapatos. Enquanto eu anotava o telefone num guardanapo chamuscado, o homem do tarô me dizia: seu futuro é o Cubby Hole na sexta e o Starlight no domingo.

Burlesco.

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