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quinta-feira, agosto 03, 2006

HIGH ART, HIGH AVA GINA FONDA

E eu disse a Anne Carole de la Gorge, me esqueça por essa noite.

Não, por nada não, nada pessoal, não era nem LBD. Quando eu disse isso até nem imaginava que seria por boas ou más razões. Por tão profundas ou péssimas razões. De qualquer maneira, instintivamente, eu achava que não era a noite certa para lidar com Anne Carole. Suas falangetas. Sua atividade corporal acéfala. Sua concentração pélvica. Tão útil e essencial a nós, enquanto par.

Ia ver High Art. Sabia que era um filme sério. Sexy. Romântico. Bem feito. Quase pioneiro na nova era de filmes lésbicos. Na nova era em que filmes lésbicos são bons e consistentes, na era em que as pessoas entendem dinâmicas lésbicas (sim, honey, elas existem, são totalmente específicas e classificam um tipo de arte, de cultura, de comportamento, não esperneie, não estou com humor para estuprar você intelectualmente agora.)

High Art é um belo filme.

Por várias razões.

o roteiro é bom.
a direção é boa.
a fotografia é boa.
os atores em geral são bons.
radha mitchel é uma atriz impecável, fantástica, incorrigível e original.
ally sheedy provando que eu tinha um ponto.

Ally Sheedy. Em 1985 eu tinha 13 anos e o comportamento começava a se manifestar. Breakfest Club (O Clube dos Cinco, em português) foi lançado. Milhares de meninas caíram de amores por Judd Nelson (sim, na época ele era um rebelde gato), por Anthony Michael Hall (nerd, mas discretamente interessante), por Emílio Estevez (de gang, mas loiro, mitos, símbolos, bla). Pra homem a gente segmenta quando é hétero, né? E todas sentiram-se Molly Ringwald, wasp cheerleader good pretty in pink girlie girl. Menos eu e outras futuras mulheres que escolhem.

Os personagens do clube dos cinco andavam às voltas basicamente com dois enigmas. Como sair da biblioteca sem se matar e como tentar trazer Allison para o mundo dos normais. Allison, a personagem de Ally Sheedy, tímida, nerd, toda de preto, sem muita vaidade, sem ser óbvia, de óculos e com sua própria e incompreendida escala de valores.

No fim, Allison se rende, mas desde aquela época eu tenho a impressão que foi exigência dos produtores. Eu tinha 13 anos e já pensava que uma Allison de verdade não se renderia, não deixaria que simplesmente tirassem seus óculos, passassem sombra verde sobre seus olhos, jogassem seu cabelo para trás, só para dar razão a qualquer homem que não visse a mulher diante de seus olhos, a mulher por trás da maquiagem. Eu era uma pré-adolescente feminista.

A aparência era tão importante nos filmes dos adolescentes dos anos 80. A mesma história sempre se repetia. Ainda é assim? Num episódio da terceira temporada do L Word, há uma festa para angariar fundos pro Max virar homem, pagar os procedimentos todos, enfim, essas coisas (ei, Jazzie, lembra do nosso papo sobre submissão? Hmmm, quase chamei Anne Carole e seu cinto de utilidades...). Bom, nesse episódio há uma festa à fantasia com o tema anos 80. E a fantasia da Jenny é de nerd da escola com óculos fundo de garrafa e tudo! Achei aquilo provavelmente uma das coisas mais geniais de toda a série! Como a gente conseguiu passar por aquilo tudo, todos aqueles filmes, sem desistir, sem achar que, well, vai ver que eles estão certos????

Enfim, divaguei, acabei de tomar uma garrafa de vinho depois de passar 48 horas sem dormir, não sei nem como estou conseguindo escrever... Não sei nem se vou conseguir parar de escrever...

O ponto é: Ally Sheedy. Depois da garota estranha do Breakfest Club, um grande pulo no tempo ignorando todas as outras merdas que ela fez, aterrisamos no Shelter Island (sei la o nome em português) um filme em que ela faz o papel de uma jogadora de golfe (lesbian as a tennis player who sings MPB at a gay bar) que namora uma outra aí interpretada pela Patsy Kensit (perdoem-me a verborragia, mas minha adolescência inteira está vindo à tona, eu tenho uma revista Bizz de 84 com a Patsy Kensit na capa, e vcs provavelmente nem sabem quem ela é...). E antes desse filme cronologicamente, mas sendo que eu vi depois, Ally Sheedy fez High Art.

De qualquer maneira, High Art seria um bom filme mesmo se não fosse lésbico. Mas que também não existiria se não fosse lésbico. Difícil explicar isso estando meio bêbada... Bom, é a história de uma fotógrafa que se apaixona por sua vizinha e fica dividida entre suas duas vidas, a de ontem e a de hoje. E a fotógrafa lésbica é a Ally Sheedy, o que faz muito mais sentido se você tem mais de 30 anos.

Ah, chega. Anne Carole está aqui ao lado do sofá com um Bufferin na mão direita e um tubo de lubrificante na esquerda. Acho que ela quer jogar Jô Ken pô (como se escreve isso?). Vou lá. Espero que ela comece com a tesoura, depois entre com a pedra e eu com o papel.

Para encerrar, amigas, vou citar um outro filme, um clássico do cinema erótico: O Iluminado. Atenção, sufflair, luvas, pilhas e creme hidratante a postos: o amigo imaginário de Danny Torrence era um dedo.

Redrum.

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