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quinta-feira, agosto 24, 2006

Na biblioteca com

AVA GINA FONDA

lésbica crítica.


É, leitoras, Ava Gina já usou muita gola roulê nessa vida. Já discuti Rimbaud no Guion, Barthes no Bar do Beto. Depois, mais madura e com mais dinheiro, Simone e Sartre no Espaço Unibanco, Paul Auster no Ritz. Cheguei a discutir Blavatsky, mas foi dentro de um consultório de psicologia, bons tempos aqueles onde eu tinha longas listas de motivos pra me deprimir e achava bonito...

Eu fui uma lenda no campus da Letras da UFRGS. Minhas obras “O Diálogo em Eu Sozinha”, sobre a obra de Marina Colasanti, ficou em exposição no xerox da faculdade por meses, e foi tomada como referência para toda uma geração de estudantes. Há anos ninguém tirava 10 num trabalho de Teoria da Literatura. Já minha monografia sobre Rigoberta Menchu chamada “A literatura analfabeta” foi incorporada ao acervo da biblioteca e me rendeu um 10 e o telefone interessado da professora. Os títulos previam meu futuro na publicidade, mas os conteúdos são a prova cabal da minha profunda formação intelectual. Na mesma época, um garoto da química me mostrava seu pau pela porta entreaberta do banheiro cada vez que eu ficava na porta da sala de latim esperando o tempo passar. Eu transava nos matos do campus com um garoto da Educação Física e com uma garota da Matemática, alternadamente. E assim nasceu minha consciência.

Mas hoje meu cerebrozinho não aguenta mais tanta profundidade e eu também tenho dificuldades de ler com um vibrador ligado e Anne Carole me sacudindo, me dá um pouco de tontura.

Então minhas leituras andam predominantemente mais leves. Não é que eu tenha me entregado completamente, semana passada terminei de ler Fury. Mas entre um Salman Rushdie e um Ian McEwan eu leio uns 10 romances policiais baratos.

Depois de esgotar as Patrícias (Highsmith, Cornwell, até a Mello), passei por Fred Vargas, Ruth Rendell e uns meio genéricos que nem lembro o nome.

Até que um dia tava numa livraria e li uma contracapa que dizia:

“Dinah Shore weekend turns deadly... And Lillian Byrd is in the middle of it!”

Gente.

Pra quem não sabe o que é o Dinah Shore Weekend, é um torneio de golf feminino perto de Palm Springs que reúne a nata da lesbiandade mundial em uma série de festas “muito loucas”, entre um buraco e outro.

Eu achava que o fato de reunir cerca de 500 mil mulheres fãs de golfe num trecho de deserto já era mortal o suficiente. Como o Dinah poderia se tornar ainda mais deadly? E quem diabos é Lillian Byrd?

Só por causa desses fatos intrigantes comprei dois livros da série Lillian Byrd Mysteries e me pus a ler.

A Lillian Byrd é uma jornalista que investiga crimes, basicamente. Mas meio que naturalmente a gente descobre que ela tem namorada, ou melhor, ex-namorada e é resolvidamente gay. As histórias são honestas, quase bobinhas, e têm umas dinâmicas que só poderiam acontecer com uma personagem mulher que escolhe.

Tem a ex a quem ela sempre recorre num momento de carência ou aperto, prolongando indefinidamente o final de uma relação. Já ouviram algo parecido?

Tem a psicossapa apaixonada que persegue a heroína, manda flores, passa a noite parada ao lado do interfone, escreve cartas apaixonadas e assustadoras ao mesmo tempo, sabe? Claro que sabe.

Que mais? Tem a dona do bar gay local que tem o cabelo descolorido, usa bota carrapeta, calça justa pierre cardin, blusa de lycra verde e um medalhão no pescoço. Parece familiar? Sim, amiga, praticamente da família.

Tem até uma cena em que a Lillian está numa festa e começa a reparar que várias das presentes têm a mão esquerda mais branca que o resto do corpo. É quando ela descobre que está numa festa de GOLFISTAS! É, tem coisas que só uma detetive lésbica pode descobrir...

Gente, é praticamente imperdível. Além de ser decentemente escrito pela autora Elizabeth Sims, com algumas pitadas de feminismo, política e bastante humor.

Enfim, a velha e íntima relação entre as dykes e as histórias de detetive continua bem obrigada, mas numa versão menos reprimida e mais bem-humorada, representada pela geração Lillian Byrd.

Mas uma dúvida persiste: o que acontece com as mulheres que escolhem que têm essa tara por histórias de detetive ou personagens que desvendam mistérios? Será inveja da pistola? Não sei por que, Anne Carole tem um pistolão e não faz mistério nenhum, muito pelo contrário, me desvenda todinha.

E LEMBREM-SE GAROTAS: FOI A NILA BRANCO, NA BIBLIOTECA, COM UM VIBRADOR.

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