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sexta-feira, janeiro 26, 2007

Na varanda tomando limonada com

AVA GINA FONDA

Lésbica crítica.

Well, well, well, outro dia estava vestida, conversando com Big Sister quando comentei algo do meu passado e ela me disse: mas como você nunca comentou isso com suas amigas imaginárias (sim, são vocês, dear readers, vocês não podem ser de verdade).

Ouvi o que ela tinha a dizer sobre o fato, pensei sobre tudo o que vivi, refleti sobre o valor da minha experiência para a evolução da humanidade, tudo isso só pensado porque estava amordaçada na cama, e resolvi escrever minhas memoirs enquanto ainda lembro delas. Acho que seria uma boa ação da minha parte.

Então hoje, aqui, agora, já não mais amordaçada mas sim amarrada com borrachas cirúrgicas, já não mais na cama, mas numa cadeira no meio de um estacionamento abandonado, na frente de uma câmera operada por Anne Carole de máscara de couro, então aqui e agora estou lançando o primeiro volume da minha autobiografia, ditada por mim e datilografada por Anne C. Toklas, e que vai se chamar originalmente:

VIAGEM AO FAROL MADALENA.

Parte 1:

Minha primeira memória. Eu, na cama, sendo acariciada por uma mulher que não era minha mãe. Mal sabia eu aos 7 meses que este comportamento se repetiria pelo resto da minha vida.

Minha infância foi normal, com exceção de alguns momentos que eu considero sinalizadores: eu chupava dedo, desenhava coisas de cabeça para baixo, passava o dia com roupa de bailarina e kichute e queria ser a sonia braga e o indiana jones.

Um dia inclusive eu estava vestida de caubói dançando o lago dos cisnes quando minha avó disse pra vizinha que eu vivia vestida de menino e aquilo me deu depressão. Eu não tinha vocabulário suficiente para caber a palavra depressão nele, então quando minha mãe perguntava por que eu não queria sair da cama, eu só conseguia descrever aquela sensação como enjôo. Esta foi a primeira depressão que tratei quimicamente, só que nesse caso com plasil e aas infantil. Durou uma semana.

O tempo passou, me sofistiquei, as escolas adotaram os cursos profissionalizantes e aos 13 anos me matriculei num curso que mudou minha vida. Enfermagem básica e primeiros socorros.

Era aqui que eu queria chegar.

Pode ser que minha imaginação romantize um pouco, mas o uniforme que usávamos era um minivestido branco com cinta-liga e meias pretas, um chapéu com uma cruzinha vermelha e várias agulhas espetadas por baixo da roupa.

Tínhamos um cinto de utilidades com grampos, clipes, tesouras e borrachas cirúrgicas, espéculos, busturis, próteses penianas e mamárias, contenções, tipóias e saca-rolhas.

Passávamos longas manhãs treinando como aplicar injeções doloridas no bumbum uma da outra. As mais afoitas e adeptas do golden showers viam nas comadres uma nova perspectiva sobre esta profissão.

O armarinho de medicamentos era o principal companheiro dos grupos de estudos, contribuindo para o desenvolvimento de qualquer matéria com todo tipo de substância, dos azuis viagras aos vigilantes hipofagins passando pelos alegres benflogins e pelos reconfortantes dormonids.

Ao final do dia, juntas, cúmplices, unidas e lubrificadas, fazíamos a saudação oficial das enfermeiras que escolhem, que consistia em colocar o dedo médio na frente da boca em sinal de silêncio, depois enfiá-lo todo na boca e ir tirando devagarinho.

Foi uma adolescência feliz.

Agora com licença que Anne C. Toklas acha que preciso de tratamento. Enquanto ela me corta, por que vocês não me contam dos cursos profissionalizantes que fizeram?

Semana que vem eu volto com mais memoirs.

E LEMBREM-SE GAROTAS: as narrativas em 3ª pessoa são mais animadas, mas sempre tem alguém que fica com ciúmes.


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