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quinta-feira, janeiro 11, 2007

No limite da compreensão com

AVA GINA FONDA

Lésbica crítica

Garotas, ouvintes, leitoras, voyeurs desse veículo de formação e informação para mulheres que escolhem.

Eu vou tocar aqui num assunto, e vou tocar contra a vontade porque preferia ser tocada, mas como tem a ver com o assunto, deixa que eu toco sozinha.

Eu tava lendo um livro essa semana de mais uma série policial. Sim, eu tenho esse desvio de caráter, adoro histórias lésbicas e adoro histórias policiais e quando junto estes dois gostos acabo lendo alguns dos piores livros do mundo, eu sei. Mas o caso em questão nem é a qualidade do livro. Vamos aos fatos.

O livro é de J M Redmann e tem como heroína a detetive particular Micky Knight. Micky anda por aí de coturnos, veste um terno na festa de gala, faz galanteios, conduz a parceira na valsa, enfrenta bandidos destemidamente, faz uns bicos como segurança e se auto-intitula uma butch.

Até aí, tudo bem.

O que me intrigou um pouco foi que lá pela página 50, quando aconteceu a primeira cena de sexo do livro (que tem umas 300. páginas, não cenas de sexo), Micky de fraque encontra Joanne de vestido vermelho com fenda na perna, cinta-liga, salto alto e bolhinhas de champagne fazendo cócegas no nariz dela. Pinta um clima e talz, afinal, elas são amigas, e rola um sexo. Joanne come Micky todinha, com direito a frêmitos, gemidos e ondas de prazer da mesma, e depois ainda tem o desplante de fazer o tradicional “sshhh, calma, não precisa...” quando a outra quer revidar.

Achei que Micky the Butch estivesse meio perturbada emocionalmente nessa cena por causa de um corpo que tinha acabado de encontrar no mato e por isso tivesse aberto mão de seu papel de homem da relação. Da relação sexual, pelo menos. Resolvi continuar lendo e esperando que o engano se desfizesse.

Lá pela página 70 Micky está na banheira de sua casa relaxando e tomando uísque quando Joanne invade o apartamento, entra na banheira, abre as pernas de Micky e lhe come embaixo d’agua, subindo a tona algumas vezes para respirar. Confesso que imaginei a cena e não contive o riso. Mas nem isso acabou com o meu desconforto. Micky the Sissy.

Eu já ouvi o célebre jargão “butch on the streets, lady in the sheets” algumas vezes e achei que sei lá, fosse algo meio infundado, uma lenda que se espalhou a partir de alguma lady decepcionada que, por causa de um desafortunado acidente, resolveu difamar toda a comunidade butch. Mas recentemente, enquanto tento acabar com meu gosto literário, minha fama de intelectual e minha capacidade de raciocínio lendo alguns livros de detetives dykes, tenho me deparado cada vez mais frequentemente com essa situação.

Por isso venho pedir a vocês que me expliquem o que está acontecendo. Será que isso é verdade, é assim mesmo? A mulher anda de perna aberta, tira você pra dançar, abre a porta do carro, segura a canela quando senta, olha duro, veste calça larga, decide onde você vai com ela, onde vão jantar, o que vão comer e em que casa vão dormir, critica sua minissaia, bebe cerveja do gargalo, não corta as unhas: arranca e depois deita na cama e fica esperando que você, de unha comprida e tudo, frágil e submissa, coma ela? Será que é impossível ter um marido em todas as partes da casa e em todos os momentos da vida, acordada ou dormindo? Como fazemos para não sermos enganadas? Qual é a explicação para tudo isso?

Enquanto vocês me respondem, vou enchendo a banheira e colocando o snorkel em Anne Carole.

E LEMBREM-SE, GAROTAS: não tem nada pior que filme de ação em que o herói morre no final.


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