<$BlogRSDUrl$>

terça-feira, agosto 28, 2007

(garotas, como o packing não tava dando resultado, vou tentar comecar de novo.)

a editora Cia das Lesbicas apresenta

MULLET'S GUN

a novel by J. T. Leroy Merlin


Laura abre os olhos no escuro ainda meio grogue. De repente, lembra de tudo. O pavor volta como um soco no estômago e na mesma hora sua respiração já acelera e ela começa a suar. Ela estava amarrada, presa dentro de um armário. Ah, a ironia da coisa…
Mas, ela pensa razoavelmente, se ainda estava viva é porque provavelmente não tinham realmente a intenção de matá-la. Tenta se controlar, não fazer nenhum som, quem sabe deixariam ela em paz?
Ela vê um vulto interromper a luz que passa pela fresta da porta. O pânico volta. Consegue distinguir direitinho o par de pés. As lágrimas escorrem. A porta estala e a fresta de luz começa a subir pela lateral e a crescer, aumentar, a porta vai abrindo, Laura fecha os olhos com toda a força, pensa em seus pais pela última vez e ainda tenda negociar:
“Se eu sobreviver eu nunca mais falo mal da Zélia Carolina nem do papa. Também prometo que saio do armário e paro de dizer que tenho um namorado chamado Natálio…“
“Moça?”
“HMMMMDALIO!” ela grita debaixo da mordaça, misturando o pânico da morte com as promessas.
Abre os olhos mas o vulto borrado logo acima não se aproxima, parece não oferecer perigo. Ao contrário, uma mão delicada parece examiná-la a procura de ferimentos.
“Calma. Eu tô aqui pra te ajudar.”
A visão vai entrando em foco e a respiração vai voltando pro ritmo. A sua frente um rapaz – ou seria uma garota? – uma garota, tem dois voluminhos sob a camiseta do FBI. Pequenos. Mesmo amarrada, seus olhos fazem o tour do reconhecimento: sapatos, calça, orelhas, dedos, cabelo. Sapatos: coturnos, marque quinze pontos, subtraia cinco porque são sapatos de trabalho, a moça parece que é do FBI. Calça: cargo, marque 55 pontos, subtraia vinte porque a moça é do FBI. Orelhas: não furadas no lóbulo 25 pontos, furadas na cartilagem, mais 25. Dedos: compridos, unhas curtas, cutículas, marque 35 pontos. Cabelo: curto comprido, caindo na cara, marque 45 pontos. Sem querer escorrega para o pescoço e tem vontade de enfiar seu nariz lá. Enlouqueci, pensa. Olha pra cima de novo. A agente quase sorri enquanto descola a silver tape da sua boca.
“Calma, shhh, fica quietinha.”
Laura fecha os olhos, nunca conseguira resistir a uma mulher proferindo essas palavras. Adora ficar quietinha.
“Eu sou a agente Mullet, do FBI, e estou aqui pra te salvar e cuidar de você.”
Agora Laura tem certeza que morreu, foi pro céu e deus está realizando todas as suas fantasias sexuais de uma vez só. O que mais poderia explicar ela estar amarrada, com uma agente viril e heróica por cima, prometendo cuidar dela, isso tudo sem precisar sair do armário? Morrer não era assim tão ruim, afinal. Mas a pergunta da agente a tira dessa divagação erótica.
“O que aconteceu aqui?”
“Eu é que pergunto. Como o FBI veio parar aqui?”
“Recebemos uma reclamação do vizinho a respeito de gritos e sons de luta. Ele desconfiou que fosse alguma seita.”
“E desde quanto o FBI investiga gritos e sons de luta? Isso não deveria ser tarefa da polícia civil ou militar?”
“É por causa do lance da seita. Têm havido acontecimentos estranhos, meio ritualísticos, envolvendo mantras e bolinhas de pinge-pongue lubrificadas…” Agente Mullet faz um ar pensativo. “Ah não, tô misturando as coisas, as bolinhas são pra outra coisa. Só mantras, ladainhas.”
“Eu sei do que você está falando.”
“Sabe?”
“Sei. Memes.”
“Memes?”
“É. Eles estão matando pessoas.”
“Hã?”
“Agente Mullet, numa situação normal eu pediria exatamente o contrário, mas a circunstância obriga: me desamarra?”
A agente volta ao trabalho e pensa, intrigada. Primeiro tem que desamarrar Laura. Depois levá-la ao quartel-general para explorar um pouco mais essa história de memes assassinos. Depois? Hm, quem poderá saber o que o destino reserva para uma mulher que acabara de tirar do armário?

(sera que continua?)

This page is powered by Blogger. Isn't yours?