<$BlogRSDUrl$>

quarta-feira, agosto 08, 2007

PACKING - CAPITULO 2

Era inútil ficar divagando sobre o passado no meio do deserto. Paula começava a suar frio e precisava u-ri-nar. Deu mais uma olhada ao redor da estação e aceitou que teria que se render ao banheiro oriental inundado. De pé, olhndo para o compartimento imundo ela traça uma estratégia. Precisa dobrar a barra da calça até o joelho pra não molhar na hora de agachar sobre o buraco.

Problema número dois: a mochila. Não tem onde apoiar dentro do recinto e deixar na rua, bom, as estatísticas iriam arranjar um ladrão qualquer na hora. O negócio era ser forte e segurar a mochila nas costas enquanto abria o golden shower.

Paula coloca o backpack de quinze quilos nos ombros, dobra a calça, tranca a respiração e vai. Sobre o buraco, dobra as pernas e projeta o corpo pra frente pra contrabalançar. O corpo todo treme do esforço que faz tentando se equilibrar e ao mesmo tempo relaxar a Holanda, Belgica e Luxemburgo* pro xixi sair. As moscas batiam nas suas pernas e ela não tinha coragem de olhar para o baldinho de água suja, que com certeza servia para lavar as mãos. Detalhe importante: legendariamente, a mão que passava pelo baldinho era a mesma que passava em locais obscuros aonde, no ocidente, apenas o papel higiênico vai. Nos países árabes, uma mão coloca a comida na boca e a outra limpa a saída. Não sei qual delas pega em maçanetas, controles remotos, serve mesas nos restaurantes, prepara o chá e corta o seu cabelo. Simplesmente não sei.

Seguindo esse fluxo de pensamento Paula só não vomita porque não pode desperdiçar forças. Alterna comandos musculares entre se agachar e se aliviar, jatear e contrair as coxas. Depois de uns cinco minutos de processo ela já estava chorando, provavelmente de desespero, as lágrimas se misturando com gostas de suor.

É quando acontece o impensável. Uma mosca vem voando entre suas coxas e, num intervalo entre dois jatos, durante a contração do quadríceps anterior, entra em Paula.

“O quê?”

Ela sente a cosquinha, olha pra baixo e não vé nada.

“Não é possível, tô ficando louca.”

E ri, achando que ainda por cima está imaginando coisas. Mas não consegue soltar mais jatos e sente pequenas vibrações dentro de si. A mosca realmente entrou.

Paula começa a gritar e a forçar e a empurrar como se fosse parir, mas nada da desgraçada. Nesse desespero, com o peso da mochila pendendo para um dos lados ela quase cai, e ao mesmo tempo que recupera o equilíbrio, recupera tambem um pouco da sanidade. Ofegante ela pensa que pior que ter uma mosca comida pela própria aranha é cair naquele chão nojento então ela levanta, abotoa a calça e sai.

Senta no chão. Olha em volta. Apesar do sol de 39 graus, tenta manter um certo nível de autocontrole.

“Como eu vim parar aqui,” ela pensa, “como eu fui me meter nisso? E como essa mosca foi se meter em mim?”
Depois de soluçar por dez minutos Paula se acalma e fecha os olhos. Não se sentia tão cansada desde a época em que trabalhava na Granero e fizera a mudança da Ísis. Os móveis eram pesados, os pratos voavam, o cachorro chorava e as mulheres uivavam. Fora horrível.


*países baixos

This page is powered by Blogger. Isn't yours?