<$BlogRSDUrl$>

terça-feira, setembro 25, 2007

MULLET`S GUN

Parte 5


Alex dirige até seu apartamento, mas antes de entrar dá meia volta e vai até o Hairy Hole, o boteco do bairro. Senta no balcão e fica brincando com os amendoins que a casa oferece para aumentar a sede dos fregueses. Jonathan, a barwoman, já viu essa cena antes. Ela abre um armário pequeno que fica trancado à chave embaixo da máquina de café e pega uma garrafa de Old Turkey e outra de Amarula. Coloca quatro copos na frente de Mullet, enche dois com whisky e os outros dois com Amarula, encosta no armário com os braços cruzados e espera ela reagir.

“Que é isso, Jonathan?”
“O whisky é pra você, a Amarula é pra mulherzinha que tá te assombrando.”
“Eu jamais ficaria com uma mulher que bebe isso.”
“Não diga dessa sapa não beberei. Você sabe como lésbicas e elefantes são com Amarula.”
“Joga isso fora e me serve mais whisky.”

A maioria dos clientes do Hairy Hole não sabia que Jonathan era genéticamente mulher. Ao contrário de Alex Mullet, que era bofe mas que não escondia ter nascido XX, Jonathan enfaixava o peito, usava pacote 24 horas por dia e guardava os pelos que depilava da virilha pra colar na cara. “Da buça pro buço”, dizia para os íntimos. Tinha passado bem dos 50. Era interessante, especialmente quando fazia o gênero caubói. Sucesso garantido entre as mulheres, não só por ser parecida com o George Clooney mas também porque combinava o melhor dos dois mundos. Um homem que entendia as mulheres. Quase sempre namorava HTs. Para ela, Mullet era como um filho. Tinha o impulso de alimentar, proteger e ensinar as artes da vida.

“Whisky. Ok. Posso saber por que?”
“Cansada, só. Chatices no trabalho.”
“Mullet, você não me engana. Talvez você nem saiba ainda, mas você tá com um problema vaginal.”
“Johnny, pelamor de deus…”

Mullet esconde a cara nas mãos. Jonathan era a pessoa mais boca suja do mundo. E mesmo que não usasse palavrões, tinha sempre um jeito chocante de se expressar.

“Não quer falar, mariquinha, não fala. Mas tá na cara que tem alguma coisa fodendo sua cabeça e essa coisa só pode ser uma vagininha.”

Jonathan olha para cima pensativa, e corrige a frase:

“Pensando bem é o contrário, seu problema deve ser justamente que a sua cabeça não tá fodendo a chaninha que ela quer… Agora conta aqui pro tio, qual a peruquinha que anda na cabeça do seu dildo, hein? É loira, ruiva, morena ou brasileirinha?”
“Odeio você.”
“Hehe. Facinha.”

Alex bebe em silêncio. Tenta pensar em baseball, mas a imagem de Laura sempre invade a cena. Tem algo errado com esse caso, ela sabe. E algo mais errado ainda na solidariedade que sente com relação à vítima. Esvazia mais um shot de um gole só e faz sinal pra Jonathan.

“Mais.”
A barwoman obedece. Mullet observa que ela arrasta um pouco uma das pernas.

“Mancando?”
“É, um pouco.”
“Que houve?”
“Pacote muito grande, tá batendo no joelho, não consigo dobrar a perna. Aqui. Bebe.”

Mullet vira. Jonathan serve mais.

“Como é o nome dela, Mullet?”
“Quem?”
“Não precisa me contar nada por enquanto. Só diz o nome. Você vai se sentir melhor.”
“…”
“Fala, caralho.”
“Laura.”
“Laura.” Jonathan abre um caderno grosso, velho e ensebado e procura algo enquanto repete o nome. “Laura, Laura, aqui, achei. Laura, do latim, coroa de folhas de ouro. Deve ter pentelhos douradinhos.”

Mullet vira o último copo e sai sem pagar. Não sabe bem por que, mas não gostou da sensação de testemunhar alguém especulando sobre os pelos pubianos de Laura. Mas que devem ser douradinhos, devem. Ela espirra de imagina-los roçando no seu nariz.


(continua)




Como brinde para vocês, um trecho dos originais de Mullet`s Gun com o desenho do logo do bar Hairy Hole, desenhado pelo autor.

This page is powered by Blogger. Isn't yours?