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sexta-feira, março 28, 2008

Vocês já devem ter percebido, eu sou uma grande fã de má literatura. É mais forte que os meus brios e a minha educação. Desde criança eu consumo toneladas de porcarias. E eu sei que é ruim mas continuo. Mais ou menos como o meu gosto pra comida.

Vocês devem saber também que eu consumo grandes quantidades de literatura lésbica. (Talvez esperando que alguém me explique.) Mas vou dizer que esse hábito desafia até os meus limites.

Este mercado gigante, mas que porém permanece num certo underground, é dominado por Radclyffes e Gerri Hills. São as mesmas histórias de amor recontadas à exaustão sem nenhum estilo e sempre tem alguém que termina de gozar chorando.

Em vez de Julia, Bianca e Sabrina deveriam fazer as séries Melissa, Shane e Rô.

Eu não estou falando por falar. Eu li todos os livros da Gerri Hill. Todos. (Por quê? Não sei.) São dez ou onze, um pior que o outro. O último, In the name of the father, é melhorzinho. Nota 2. Mas no resto só muda a capa. E a Radclyffe (não a Hall) então, que já publicou uns 900 livros, é insuportável. Inlível. Eu li um e meio e tive que parar. Se eu tive que parar, é porque realmente é pior que extrair uma unha.

Mas tudo isso pra dizer que eu encontrei uma perolazinha. Chama-se Isabel Miller e escreveu um livro chamado Patience e Sarah.

Veja bem, o livro realmente é sobre uma história de amor impossível. Poderia ter sido escrito por uma dessas. A Helen Macpherson escreveu uma novela parecida em For those who trespass against us. A diferença é que o livro da Isabel é bem escrito, com deliciosas observações sobre detalhes, com um estilo muito próprio, o que faz toda a diferença.

A história da autora também é interessante.

Seu nome verdadeiro é Alma Routsong e ela era uma senhora casada, com filhos, que escrevia novelas românticas água com açúcar, lidas por outras desperate housewifes. Depois de 15 anos casada, na década de 60, ela resolveu sair do armário e foi morar com a namorada. Só que teve um bloqueio, não conseguia mais escrever. Desesperada, depois de dois anos tentando tirar um livro, descobriu que não conseguia mais escrever sobre heterossexuais. Com a ajuda da namorada e de uma tabua ouija, ela escreveu a história de um casal de mulheres que viveu junto num fazenda no interior dos estados unidos por volta de 1816, desafiando toda a sociedade (eu disse que a historia era dessas mesmo). Com esse livro, Alma Routsong resolveu adotar um pseudônimo, principalmente para proteger os filhos. Escolheu Isabel Miller, sendo que Isabel é um anagrama de Lesbia.

Aparentemente, este é considerado o maior clássico da literatura lésbica e algumas de vocês já devem ter ouvido falar, mas e eu não sabia. Foi uma descoberta. E um alívio. Pra colocar na estante junto com as exceções. Com aqueles autores que escrevem porque gostam de literatura. Pessoas que têm realmente um jeito de contar ou alguma percepção interessante sobre o mundo, não só uma fantasia de amor. Escritores, não apenas lésbicas que escrevem. Tipo a Vange :)

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