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quinta-feira, abril 10, 2008

IN FANNYPACK HILLS


parte 10


Melissa e Daniele estão na delegacia, numa sala branca e vazia, exceto por uma escrivaninha onde um oficial entediado preenche suas fichas e inventários. As duas sem roupa, esperando instruções. Melissa apavorada e constrangida, com as mãos cruzadas na frente do corpo. Daniele olha pra ela, relaxada e com um ar meio tarado. Como ela pode, nessa situação?
- Sra. Melissa E.?
- Eu.
O oficial estende um papel pra ela assinar, a lista de suas roupas e pertences no momento da prisão.
- Sra. Daniele S.?
Daniele também assina. O oficial emposta a voz pra ler o boletim de ocorrência.
- Os aqui presentes e abaixo-assinados, Melissa E. e Daniele S., são acusados de desacato ao patrimônio público denominado “Glória da Descoberta de Fannypack Hills”, tendo os acima mencionados invadido propriedade pública e escalado o denominado monumento, não mantendo assim postura digna de tão valoroso símbolo.”
Melissa espia Daniele que está coçando a batata da perna direita. Quando ela se estica para alcançar o ponto que incomoda, todos os músculos posteriores do seu corpo se contraem, e eles são muitos.
- Além da citada infração, os réus acima citados...
Melissa agora observa suas pernas, os tornozelos e pés, fortes, Camille Claudel.
- Acusados de conduta imoral e atentado violento ao pudor de acordo com o artigo 348, inciso 7...
Quando você olha muito tempo a outra pessoa sente. Daniele descobre com satisfação que está sendo cobiçada. Melissa fracassa em disfarçar.
- Segundo relatório de testemunhas, os elementos estavam envolvidos em atividade sexual explícita com exposição de partes íntimas do corpo, beijos, caricias e outras formas inapropriadas de contato...
O oficial pára a frase no meio como se tivesse acabado de se dar conta de algo. Levanta os olhos devagar primeiro pra Dani, depois vira pra Melissa, as duas mulheres. Quase dois minutos mais tarde um sorriso malicioso surge na sua cara gorda. Melissa fica ofendida.
- Acabou?
Do sorriso ele passa para uma risadinha safada, obviamente imaginando a cena.
- A terceira acusação é de desacato a autoridade onde as infratoras riram e debocharam dos oficiais presentes no flagrante. Pronto. Agora eu vou precisar dos dedos de vocês, se não for incômodo.
Daniele percebe que a irritação de Melissa está prestes a se manifestar e tentando evitar uma cena e maiores complicações ela toma a dianteira, se aproxima da mesa com a mão estendida para imprimir as digitais.
- Pois não, senhor, meus dedos, infelizmente não me deixaram lavar, espero que o senhor não se incomode.
Melissa tem que tossir para segurar o riso. Elas recebem suas roupas de volta sem pertences e documentos e são encaminhadas a cela.

***
Daniele esta sentada na cama roendo as unhas enquanto Melissa olha há quinze minutos para a privada podre no canto da cela. De repente ela vira desesperada, com a mão na testa.
- Você não vai fazer nada?
- Na privada?
- Daniele!
- Ups, nome inteiro. O que você quer que eu faça?
- Sei lá, liga pra alguém, chama um advogado.
- Onde eu vou achar um advogado em Fannypack Hills?
- Eu sou advogada.
- Jura?
- Sim. Mas não importa, a gente tá na cadeia, isso é muito sério, alguém tem que tirar a gente daqui.
- Bom... Não sei o que fazer... A única advogada que eu conheço ta presa.
Daniele ri de si mesma e isso ao mesmo tempo fascina e irrita Melissa.
- Não tem graça.
- Tem um pouco. Vem cá.
Melissa ignora, continua com a mão na testa encarando a privada.
- Melissa? Lis? Doutora?
Ela leva um susto quando Melissa exclama de repente.
- E se eu precisar usar a privada, por exemplo? O que a gente vai fazer?
- Eu viro de costas, fecho os olhos e os ouvidos.
- E se a gente ficar aqui dias?
- Eu fecho os olhos, os ouvidos e o nariz.
Melissa se joga de bruços na outra cama com o rosto enfiado nas mãos. Daniele desconfia que ela está chorando. Isso não é bom. Levanta do seu catre e deita do lado. Mexe no cabelo comprido e macio, fala baixinho.
- Fica calma, a gente vai dar um jeito. Mas agora é muito tarde, todo mundo está dormindo. Mesmo que a gente consiga um advogado, não tem ninguém aqui pra nos soltar. Mas amanhã de manhã a gente resolve tudo.
- Você não pode ligar pros seus pais?
- Não.
- Por que?
- Porque eles não viriam.
Melissa levanta a cabeça.
- Deixariam você na cadeia?
- Não quer nem tentar?
- Pra ouvir da boca deles que eles não ligam? Não.
Já deve ter acontecido antes, ela pensa. E deita de novo. O cafuné estava bom. Ela ouve Daniele dizer.
- Dorme.
E obedece.

(continua)

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