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domingo, abril 13, 2008

IN FANNYPACK HILLS

Parte 12


Dois dias depois Melissa acorda e a primeira coisa que vê é a cara de Daniele. Chega a se perguntar onde está, mas
o desconforto do banco a assegura que está no seu carro e a outra está espiando pela janela. Daniele bate no vidro.
- Bom dia. Vamo, levanta, futebol!
- Que futebol?
- Aquele com uma bola, duas traves, onze pessoas de cada lado correndo...
Pela cara de Melissa a explicação não foi satisfatória.
- Eu te explico no caminho do banheiro, pega a sua escova de dentes.
Sem tempo de pensar ela obedece. Enquanto lava o rosto Daniele esclarece.
- Hoje é domingo, tem jogo de futebol no campo atrás da igreja. É ótimo, porque a gente chuta na parede do
quarto do padre só pra irritar. Vai ser legal, choveu e o campo tá embarrado. Queria que você fosse assistir.
Ela parece uma criança. Melissa repara que ela está usando uma camiseta do Chelsea, shorts, meião e chuteira.
- Você joga?
- Muito.
Chegando ao campo ela senta na beirada do gramado e Daniele se junta a um time de camisetas azuis. O
engraçado é que cada camiseta é de um time diferente – Chelsea, Porto, Grêmio, PSG, Itália. Do outro lado um
time de camisetas brancas – Santos, Real Madrid, Alemanha – se aquece com a bola. Daniele é a única mulher em
campo.
O jogo começa. A cidade inteira assiste e comemora todas as jogadas, como se todos torcessem para os dois times.
Ela presta atenção nos sons. Reações da torcida, gritos distantes dos jogadores, pancadas secas na bola, o
crescendo dos grupos de jogadores correndo na grama, como cavalos.
Dani é alta e forte, mas quando colocada entre homens parece pequena e frágil, o que aparentemente ela
compensa com agilidade e velocidade. Ela consegue prever e escapar da maioria das divididas mas mesmo assim
Melissa sente uma certa apreensão cada vez que ela se envolve numa jogada.
De longe vê Daniele roubar uma bola no campo de defesa e disparar pro ataque pelo flanco esquerdo. No caminho
ela escapa de um carrinho adiantando a bola e pulando por cima do cara. Mas antes que possa regularizar o passo
no piloto automático da corrida, outro jogador chega e interrompe sua evolução com uma perna esticada e um
tranco de corpo. Devido à diferença das massas e à velocidade em que vinha, Daniele voa uns dois metros e rola
outros tantos. É impressionante e feio, mas também é bonito. Melissa levanta com as mãos na boca, não sabe se
deve entrar no campo pra acudir ou não, uma atitude dessas pode emasculá-la diante dos outros jogadores.
Resolve esperar e a bola sai do campo bem perto dela. O outro jogador, o que deu o tranco, vem buscar e então
ela reconhece Pedro. Ele não pára, só diz no caminho:
- Esse jogo é pra homens.
E reinicia a partida.
Daniele levanta coberta de lama, puxa uma das meias, olha pra Melissa e devagar recomeça a correr.
Melissa senta de novo, puta e cheia de perguntas. Daniele sabia que Pedro estaria jogando? Pedro sabia o que
tinha acontecido entre elas e aquele comentário tinha sido uma indireta? E o que ela deveria fazer, continuar
assistindo ou ir embora? Ela observa os dois adversários que tinha criado, a elegante Daniele e o viril Pedro.
- Qual é o seu time?
Ela pula de susto. A sra. Middlefinger tinha praticamente se materializado do seu lado comendo um desses
salgadinhos nojentos.
- Oi, Sra. Middlefinger.
- E o time, já escolheu?
- Ainda não.
- Quer um salgadinho?
- Não, obrigada.
- Pega, é bom, tem gosto de buceta.
Melissa olha quase curiosa.
- Obrigada mesmo, mas é que eu acabei de comer.
- Tem que escolher.
- ...
- O time.
- ...
- O de branco é mais pegador, o de azul joga bonito. Não acha?
- Eu não entendo muito de futebol.
- Quem tá falando de futebol?
Melissa fica um pouco chocada e não responde. Ela nunca responde quando não sabe o que dizer, o que não deixa
de ser honesto.
- Assim vai acabar no zero a zero.
Quando Melissa resolve virar para reclamar da audácia a sra. Middlefinger não está mais lá. No campo começa uma
briga. Ela vai embora.

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