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segunda-feira, abril 14, 2008

IN FANNYPACK HILLS


Parte 13 Epílogo


Melissa ouve música de olhos fechados sentada no capô do carro. Canta alto e sem afinação. Tinha arrumado tudo pra ir embora, fugir da bagunça que tinha criado na sua vida e, principalmente, na vida dos outros. Mas simplesmente não ia. Não entrava no carro, não ligava, não engatava a primeira, só ficava ali, esperando a hora certa.
Abre os olhos. Pedro está ali, encostado numa árvore. Tira os fones, mas não inicia a conversa.
- É verdade o que eu ouvi?
- O que você ouviu?
- Que você stava beijando aquela moça na estátua.
Como negar? Como confirmar? Melhor usar sua tática de silêncio.
- Não acredito. A gente tinha acabado de...
Ele acha que não se diz o nome daquilo para uma mulher então deixa no ar. Melissa segue muda.
- Eu até achava que tinha alguma coisa entre a gente. Foi bom. Aí eu acordei e você tinha sumido. Primeiro fiquei confuso, depois puto, depois achei que a culpa era minha e fiquei preocupado. Queria te encontrar pra dizer que você não tinha sido usada. Perguntei pros meus amigos se alguém tinha te visto, numa cidade desse tamanho alguém sempre sabe alguma coisa. Casualmente um deles é policial e prendeu você. E tirou muita onda com a minha cara.
Melissa se sente muito mal. Sempre morou em cidades grandes onde praticamente tudo o que se faz é anônimo.
Ela mesma fora traída por três anos e nunca algum de seus amigos viu Jackie com a mulher laranja. Ela continua sem conseguir falar e agora também não pode olhar pra ele.
- Por favor, fala alguma coisa.
Ele tinha razão, esse silêncio não era justo.
- Eu não sei o que eu quero.
- Você... é... Homossexual?
Ele tinha um cuidado comovente.
- Sempre fui.
Ele fala devagar, se dando tempo de escolher as palavras ou desistir.
- Eu... Seria... Fui... O primeiro?
- Não, não.
Ela tenta descobrir se ele está aliviado ou decepcionado. As fantasias masculinas às vezes são contraditórias. Dois corpos ocupando o mesmo lugar no espaço. Mas as mulheres nunca vão entender.
- E por que?
- Eu acho que nunca tinha tentado direito, então não tinha certeza. Do que eu era. Sou.
- Agora tem?
- Não.
Agora dava pra ver que era alívio. Deduz meio surpresa que ele gosta dela.
- Por que você não tenta mais um pouco e janta comigo hoje a noite?
Ela lembra de Daniele brigando no jogo.
- Ok.

***

Escolheram o Café Middlefinger, já que da última vez que foram à lanchonete encontraram Daniele. Sentaram olhando o cardápio famintos. Ele quase eufùrico por ela ter aceitado o convite. Tenta não perder a capacidade de falar.
Ela vê umas quarto expressões diferentes passando pelo rosto dele e pensa em perguntar o que é mas desiste. Ela sabe a tragédia que pode acontecer quando ele está nervoso demais pra se expressar. Os dois riem.
Então viram para chamar o garcon e surpresa: Daniele está lá, parada no meio de um movimento qualquer, olhando pra eles branca e com cara de quem acabou de ser esfaqueada.
Antes de Melissa se recuperar do choque Pedro a leva embora. Ela gosta, se sente resgatada. Compram um hamburguer na lanchonete e comem no carro. Depois vão pra casa dele transar.
Foi bom, mais calmo que da primeira vez. Ela pensa nos detalhes sentada na cama, nua, olhando pela janela, ao lado do corpo dele adormecido.
Ela se sente duas pessoas. Uma quando está excitada, que deseja e venera Pedro com todas as células do corpo. A outra, depois que tudo acaba, sente um pouco de tédio e degradação. Hoje teve de novo o problema da camisinha. Na hora não não deu bola, mas agora estava irritada. Como se nunca pudesse relaxar. Como se Pedro não desse a mínima.
De repente lembra da Jodie Foster de minissaia dançando bêbada num bar qualquer. Acusados. Depois num tribunal defendendo o seu direito de ser meio putinha. Até que ponto a responsabilidade é dividida e quando passa a ser só da mulher? Essa irracionalidade do desejo masculino a assustava. Comparar sexo com um cara que gosta com um estupro a assustava. Tinha alguma coisa errada com ela.
Ela sente vontade de chorar e de vomitar. Pega suas roupas e foge de novo. Vai até a casa de Daniele, bate, mas ninguém abre. Tem luz lá dentro. Ela vira a maçaneta e entra. Encontra a Sra. Middlefinger no sofá comendo pamonha.
- Daniele?
- Foi embora.
- Pra onde?
- Não sei.
- Volta quando?
- Nunca.
Melissa sente o estômago apertar. Middlefinger fala com a boca cheia.
- Como assim?
- O que ela ia ficar fazendo aqui?
- Mas ela não me disse nada, não se despediu…
Melissa tem um olhar desesperado. Middlefinger responde com uma risada sarcástica. Melissa treme, cruza os braços e enche os olhos de água. Middlefinger fala de boca cheia.
- Pamonha.
- Não, obrigada.
- Eu não estava oferecendo. Pamonha!
Melissa anda até a estátua. Sobe. Lá em cima chora de soluçar. Lamenta todos os fatos dos últimos dias. Por outro lado, pelo menos sua vida estava resolvida, a decisão tinha sido tomada por ela. Não havia mais Pedro e Daniele, agora só havia Pedro. Iria voltar pro braços e resolver seus fantasmas com relação aos homens. Mas antes revive todos os segundos que passou com Daniele. E pensa com uma dor física que acabou.

fim!

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