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quarta-feira, abril 09, 2008

IN FANNYPACK HILLS


Parte 9



Ela caminhou pela estrada por umas boas duas horas antes de chegar no centro da cidade. Às vezes uns paralelos com a Jodie Foster ameaçavam aparecer na sua cabeça mas ela apertava o passo pra ser mais rápida que o pensamento. Alguma coisa estava errada porque absolutamente nada estava errado e ainda assim ela não se sentia bem.
- Ótima hora para uma caminhada.
Melissa deu um grito imaginário. Ela não é o tipo de pessoa que deixa o grito sair.
- Dani. O que você tá fazendo aqui?
- A minha balada começa quando acaba a sua. Não tinha uma frase sobre a liberdade que era assim?
- Não sei.
- O seu namorado deve saber. Ele é bom com frases feitas. Vinho?
- Não, brigada.
- Toma um pouco, é bom. Senta, o pub da Dani acabou de abrir, daqui a pouco tá bombando.
Melissa tem o ímpeto de dizer não mas pensa bem e não encontra nada que a impeça. E ultimamente isso tem sido seu maior motivo para fazer qualquer coisa. Senta no chão, toma um gole direto da garrafa e faz uma careta. Daniele ri de um jeito discreto mas genuíno que sempre faz Melissa parar o que está fazendo pra tentar ver.
- É isso que você faz pra se divertir?
- Às vezes. A essa hora ninguém enche o meu saco. Sento aqui, bebo um pouco, depois vou pra casa dormir.
- Não se sente sozinha?
- Eu sou boa companhia.
- Eu também costumava ser, mas ando meio de saco cheio de mim mesma.
- Falando nisso de onde você saiu?
- Como assim?
- Você apareceu do nada aquele dia no Middlefinger.
- Eu venho viajando há dois meses.
- Mora onde?
- Lugar nenhum.
- Trabalha?
- Não mais.
- Rica?
- Não.
Daniele passa a garrafa e pára de falar. Melissa estranha um pouco as perguntas pararem por aí, sem nenhuma resposta satisfatória.
- Dani?
- Hã.
- Você tem namorado?
- Você só pode estar brincando.
- Por que?
- Que tipo de pergunta é essa?
- Desculpa, não quis invadir sua privacidade.
Daniele muda de posição na calçada pra poder ficar bem de frente.
- A questão não é privacidade. A questão é que você sabe a resposta.
Melissa olha pra dentro da garrafa. É, ela sabe mesmo desde o primeiro minuto que Daniele é gay e não tem namorada. No fundo não estava realmente perguntando. Estava provocando. Melhor mudar de assunto.
- E se agente subisse no cavalo?
- Na estátua?
- É.
- Pra que?
- Pra ver se cortaram o pinto do cavaleiro ou não.
Daniele deita no chão rindo, a camiseta sobe e mostra a barriga e as costelas. Melissa tem vontade de por a mão pra saber que textura tem, se é quente.
- É sério, vamos?
- Você tá bêbada já?
Melissa levanta e faz o quatro.
- Ok.
- Traz o vinho.
- Como eu vou escalar uma estátua com uma garrafa na mão?
- Não sei, Daniele, deixa de ser mariquinha e dá um jeito.
- Tipo de comentário que mexe com a minha masculinidade.
- Vem, Dani, me ajuda.
Melissa já está em cima do pedestal tentando alcançar com o pé o arreio do cavalo, mas é muito alto. Daniele faz um degrau com as duas mãos e ela monta como se o animal fosse de verdade. Lá em cima, trava o pé do outro lado e deixa Daniele usar sua perna direita como corda pra subir e sentar na sela na frente da estátua e atrás de Melissa. Olhando de longe, o monumento agora tem três cavaleiros.
- Você sente o pau da estátua roçando atrás de você?
- Que nojo, não!
- Então a gente vai ter que virar pra olhar.
Com certa dificuldade Melissa inverte sua posição na sela até as duas ficarem cara a cara, as pernas inevitavelmente abertas, Daniele olhando muito séria.
- Eu preciso perguntar.
- O que?
- Onde você estava essa noite?
- Na casa do Pedro.
- Fazendo o que?
- É uma pergunta retórica ou você quer mesmo que eu conte?
As duas se encaram. Daniele está até com raiva. Dá pra ver os músculos da mandíbula se mexendo. Melissa quase se distrai olhando pra eles.
- Você me beijou naquela noite. Pelo menos me lambeu. Ou vai dizer que não lembra?
Melissa decide não responder porque dessa parte ela lembra mas não quer dizer.
- Lembra?
Não adianta insistir, ninguém pode obrigá-la a falar. Podia ficar pra sempre parada lá, não dizendo nada.
Só que Daniele não é boba, não é burra, não é insegura e sabe reconhecer uma tática de defesa. Com a língua molhada ela lambe devagar a boca de Melissa, depois diz baixinho.
- Lembra?
O coração de Melissa dispara. Engraçado sentir a mesma coisa que há algumas horas só que em outra parte do corpo. Seu olhar derrete. Daniele volta agora com a boca toda e Melissa corresponde, uma porque é bom, outra porque sabia o que estava fazendo, sabia beijar uma mulher, e isso lhe dá uma alegria e uma excitação que substituem o cansaço que o corpo deveria estar sentindo. A garrafa de vinho se estilhaça no chão. Daniele sobe as mãos por suas costas depois desce uma delas, só pra subir de novo pela frente, levantando sua camiseta. Depois puxa Melissa para o seu colo, as mãos fazendo a curva por trás das coxas. Melissa olha pra baixo e vê Daniele com o rosto vermelho, os olhos cheios de tesão.
- Ei.
Daniele olha pra Melissa e não acredita que essa mulher possa ter sentido com aquele cara a mesma coisa que ela está vendo.
- Ei vocês!
Caralho tem alguém aí. Melissa pára instantaneamente e abaixa a camiseta. Daniele demora mais pra sair do transe.
- Vocês estão presos por desacato ao patrimônio público e atentado violento ao pudor. Desçam devagar, com as mãos onde eu possa ver.
Daniele fala baixinho enquanto ajuda Melissa a descer.
- Bem que ele gostaria de ver onde eu acabei de por as mãos.
Melissa chega no chão gargalhando.

(continua)

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