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domingo, maio 11, 2008

Katerina “Geloteta” Denova está ansiosa. Tem um encontro. Melhor: tem um jantar na sua penthouse. Ela convidou, a garota aceitou e vai chegar a qualquer momento. Ela ajeita o arranjo de flores da mesa, acende as velas. Preparou uma refeição oriental vegetariana.

A campainha toca e Geloteta tem um momento de pânico. Se olha no espelho do hall e limpa o baton do dente. Abre a porta e um sorriso para receber a convidada. Vão para a sala quebrar o gelo com um copo de cava. Conversam timidamente, depois amigavelmente, depois descontraidamente, o que siginifca que já têm intimidade pra comerem juntas. Vão para a mesa.

Assim que estão sentadas Geloteta toca um sininho de prata. Em poucos segundos uma porta se abre e Chuck Norris e Charles Bronson vestidos em túnicas gregas aparecem trazendo o jantar em bandejas. Servem as duas, fazem um cumprimento inclinando o corpo e se retiram. Depois que comem o sininho toca de novo e os dois trazem a sobremesa. Mais sininho e eles retiram os pratos. Geloteta e a convidada se encaminha à sacada. Chuck aparece discretamente, o corpo arqueado para a frente, olhos no chão e pergunta:

- A senhora está satisfeita, dona Geloteta? Devemos nos retirar?
- Sim Chuck. E raspe essa barba.
- Pois não, dona Geloteta.

Sai esvoaçando. Dizem que Geloteta matou toda a famíla de Charles Bronson, mas ele fez uns quatro filmes depois se vingando de outras pessoas para ela não achar que ele a culpava e o matasse também. Geloteta tenta puxar conversa.

- Tá na hora da Madonna parar ou se reinventar.Esse truque do Timberlake teve efeito contrário, não acha?
- Arrã, diz a convidada bebendo seu Sauterne.
- Você gosta de Ali Smith?
- Você gosta?
- Gosto.
- Eu também.

Geloteta toma um gole.

- Outro dia vi um filme com a Maribel Verdú em que uma senhora passava o tempo todo perguntando pra que serviam os velhos e e ninguém sabia responder. Eu não consegui mais prestar atenção na história, saí do cinema me perguntando e estou até agora desesperada sentindo que eu preciso achar essa resposta. Você entende?
- Eu adoro a Maribel Verdú.

Geloteta suspira. Quarenta e cinco minutos depois ela está na mesa de novo, agora comendo estrogonofe de maminha. Mais um encontro terminava assim, com ela comendo a convidada em vez de ser comida. Será que sua aparência durona, decidida, disfarçava tão bem o seu lado feminino, delicado, passivo? Nunca ninguém iria dominá-la? Ou era culpa dela, que acabava matando todas as que tentavam? Sua mente vivia em guerra consigo mesma.

Está deprimida. Liga o som. Maybe not. Adora essa música porque ela consegue ouvir os pés de Cat Power nos pedais do piano. O backstage. Essa música não tem nada a esconder, ela pensa. Era feita de uma melodia simples, um discurso e de tudo o que havia por trás. Gostaria de matar alguém agora. Mas já havia assassinado todo mundo nos três andades debaixo do seu.

Vai até a sacada, está chovendo. Deixa os pingos caírem no seu rosto para disfarçar suas lágrimas de solidão. Lá embaixo vê Chuck Norris correndo até o ponto de ônibus pra ir pra casa. Grita:

- Chuck!

E assiste ele se encolher de medo e mijar nas calças. Às vezes não matar era quase tão divertido quanto matar.

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