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terça-feira, maio 13, 2008

Katerina “Geloteta” Denova está parada na frente da vitrine de uma loja de animais. Nao consegue ir embora. Além dos lânguidos gatinhos, dos coloridos e desajeitados beaglezinhos rolando na serragem, mordendo um ao outro e se provocando com a patinha direita (os animais tambem têm isso de destro e canhoto?), além do solitário piratinha bull terrier, hoje a loja também tem um chinchila. Ela olha pro bichinho e depois ao redor, procurando alguém pra comentar que até o nome e fofo, chinchila. Chin-chi-la. Todas as sílabas são moles. Falar é como tocar.

O nariz do bichinho não pára de farejar. E ela pensa “o quê?” O que ele poderia estar farejando num lugar desses? Serragem, uma cenoura velha, ração, urina e fezes ou o Bull Terrier da gaiola ao lado que tem a cabecinha trêmula de tão novo? E já condenado. Prisão perpétua. Mesmo que alguém o vacine, alimente e dê banhos de sol, qual é a diferença? Sua liberdade estaria sempre restrita a dois metros de coleira. Coleira, harness. Ela pensa em sexo. Pisca pra recuperar o foco no chinchila. Chin-chi-la. Prisão perpétua ou virar casaco de herdeira. Sim, herdeira. Hoje em dia é impossível ganhar dinheiro suficiente para comprar um casaco de pele, só herdando. Mesmo assim, grande parte da população mundial de chinchilas estava virando casaco, conhecendo Paris. E isso não era jeito de conhecer Paris. No Peru algumas pessoas comem chinchilas, o que ela considera uma morte nobre. Mas o percentual era pequeno.

Ela desvia o olhar da vitrine para o interior da loja onde um rapaz de cabelos compridos e cacheados e uma moça de cabelos curtos e lisos colocam uns pintinhos numa caixa de papel com um pouco de palha e uns furos e entregam para o casal com dois filhos pequenos. Ele tem cutículas levantadas. Ela tem unhas francesinhas. Unhas francesinhas. Que merda é essa? Pintar o branco da unha de branco? Geloteta entra na loja. Eles têm tesouras de tosa. Ela fecha a porta e vira o sinal de aberto para fechado. Faz sua arte. Depois serve os olhos para os bichinhos comerem, quem sabe dá um pouco mais de visão. Para os gatos não, eles não precisam. Para eles ela serve o coração. Na saída pega do display uma coleira com uma plaquinha que diz “I’m your bitch”, veste e sai.

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