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segunda-feira, julho 21, 2008

CLOSET



12



12.

Semana seguinte no trabalho ninguém chama Melissa com os olhos. Alice a ignora. Quando se cruzam no corredor nem aquele grunhido que se dá para um colega de trabalho que você já cumprimentou doze vezes acontece. No final do dia um email dela chega à caixa de entrada de Melissa.
Assunto: desculpe.
Corpo do email: eu estava um pouco tonta sábado então não sei se você percebeu a brincadeira. De qualquer forma, ERA UMA BRINCADEIRA. Desculpe.
Melissa escreve de volta um que é isso, claro que era brincadeira, sem problemas e aperta o "send".

xxx

Melissa decide que precisa se exercitar a vai nadar na piscina do bairro. Ela pula na água e nada rápido até o cérebro esvaziar e se concentrar nos azulejos que passam no fundo. Depois diminui o ritmo e sente a água passando pelo corpo. Imagina que é a pele de alguém. Faz tempo que isso não acontece. Vai ver por isso os sonhos. Acelera de novo, foge. Até ficar exausta.
Sai da piscina e vai pro chuveiro. Tem um pouco de eca desses banheiros públicos mas azar. Ninguém morre de micose. E ela toma banho de chinelos. Chega a ser singelo. Nenhuma privacidade, nem boxes nem cortinas separando as nadadoras nuas e Melissa mantendo a reserva nos pés. Imagina se as outras mulheres estariam tão à vontade se soubessem que ela era lésbica. Não que ficasse cobiçando o corpo de qualquer uma mas mulheres héteros não entendem esse conceito. Azar delas.
Então tem uma sensação familiar. Uma presença na nuca. Ali está lá, de maiô e touca, pingando, olhando pra Mel. As duas não se mexem por uns bons minutos até que Ali se dá conta que está de touca, fica vermelha, tira, arruma o cabelo e quase grita.
- Você também nada aqui?
- Primeira vez.
- Tudo tem uma primeira vez né?
Melissa meio que sorri. Ali joga a toalha na cabeça e sai correndo, esbarrando nos bancos do vestiário.
- Ali.
- Que?
Ela continua com a cabeça coberta.
- Os chuveiros são pra cá.
- Eu sei.
- Tira a toalha. Fica mais fácil saber qual é a quente e qual é a fria.
- Correto!
Ali toma banho sem tirar a roupa. Ela sabe que Melissa é gay. Tão óbvia. Depois se veste por cima do maiô molhado pra não ter que ficar pelada. Mel vê tudo pelo espelho e não aguenta.
- Escuta, eu vou sair do vestiário pra você poder se secar e se vestir direito, tá? E não se preocupe porque mesmo sendo gay eu não fico checando qualquer mulher viu?
- Eu sou qualquer mulher?
Uh, babe, e agora? Fica inevitável imaginá-la sem roupa. Pelos braços e pernas, musculosos e desenhados, o resto deve ser bem interessante. Talvez Melissa a checasse sem roupa. Merda.
- Não, não é. Mas é uma mulher hétero e casada. Nós lésbicas temos um mecanismo de censura contra isso. Pode ficar tranquila.
- Como funciona?
- O que?
- O mecanismo.
De louca com uma toalha na cara Ali estava se tornando levemente ousada.
- Ah. Se eu visse você sem roupa, enxergaria faixas pretas nas partes proibidas.
- E você não consegue tirar essas faixas?
A roupa de Ali está transparente de molhada. Melissa luta pra segurar seus olhos numa altura respeitosa.
- Pára Ali.
Melissa pega sua bolsa e sai. Naquela noite sonha com a piscina, os azulejos e Ali, passando lá no fundo. Não sabe que sensação é essa.


...

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