<$BlogRSDUrl$>

terça-feira, julho 29, 2008

CLOSET



18




Segunda. Oito da manhã. Melissa consegue se esquivar até seu escritório sem chamar a atenção de ninguém. Está apavorada com a perspectiva de explicar sua prisão pras colegas. Fecha a porta pra pensar no que dizer pra Sra. Closet, como agradecer, etc. E sobre o tal do acompanhamento psicológico. Ela bem que precisava. Mas não um pago por alguém que não podia saber nada sobre o que realmente a atormentava. Conseguira evitar mais beijos de Ali no domingo, mas só ela sabia o esforço sobre-humano que tinha sido. Dá um frio na barriga só de lembrar.

Na frente do teclado do computador, um copo de café, um pacotinho e um bilhete.

"Um brownie pra adoçar seu dia. E um café pra você ficar encarando. Você tem hábitos estranhos mas eu aceito. A."

Melissa tem vontade de esfregar o brownie no corpo todo mas pensando melhor, podia passar sem mais essa demonstração do seu frágil equilíbrio mental. Ri sozinha de imaginar a cena. Closet and Closet entram na sala e ela com a camisa aberta, o peito e a cara cheia de chocolate. Como um cumshot para mulheres que não fazem sexo. A porta abre bruscamente, Sra. Closet entra, Melissa agradece seu resto de sanidade.

- Sra. Closet.
- Glen.
- Glen, eu estava indo pra sua sala agora agradecer.
- Não precisa. Eu entendo você. Entendo o quanto a sua situação pode ser estressante.
- Entende?
- Sim, eu sei tudo o que você está passando. Já estive lá.
- Já?
- Já. Sonhos e tudo.
- Sério? E como passou?
- Arranjei um marido.

Melissa tome um gole do café. Está fervendo. Ela quer cuspir, mas não é o momento certo. Engole e disfarça a dor que vai da garganta até o estômago. Os olhos enchem de lágrimas. Glen confunde essa manifestação com comoção.

- Calma, não precisa chorar.

Levanta e encosta a cabeça de Mel no seu peito, bem no meio dos dois, meio sufocante. Faz um cafuné.

Ela diz:
- Eu sei que é difícil encontrar o homem certo. Mas não precisa perder as esperanças.

Melissa pensa:
- Ela usa Azzaro.

Ela diz:
- A gente escolhe muito, fica se prendendo em características fúteis como sensibilidade e capacidade de conversar.

Melissa pensa:
- Do que essa louca tá falando?

Ela diz:
- Um homem não precisa saber conversar nem entender poesia. Um bom homem serve para pôr ordem na vida de uma mulher.

Melissa pensa:
- Ordem? Hm. Ela quase me convenceu de que eu quero um.

Ela diz:
- Eu vou te ajudar. Conheço bons homens disponíveis e vou dar um jeito de te apresentar, Mely.

Melissa pensa:
- Cuma?

Ela diz:
- Aguarde instruções.

E sai da sala, deixando Melissa com o esôfago queimado.


xxx

This page is powered by Blogger. Isn't yours?