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quarta-feira, agosto 20, 2008

CLOSET


29


Sem vontade de comer, Melissa está num daqueles restaurantes tipo americanos, com sofazinhos, jukebox e comida gordurosa. Bebe muita água porque refresca por dentro. Lava a alma. Ajuda a engolir. Aí alguém senta do seu lado. Sem energia pra reagir, ela vira devagar. Sem força pra se surpreender, ela diz sem emoção.

- Pedro.
- Oi. Como você tá?

Nem sabe como responder a essa pergunta, vindo de quem veio. Mente.

- Bem.
- Tava com saudade de você.
- ...
- Quem diria que a gente tava tão perto né?
- Incrível.

Foi um comentário sarcástico mas ele não percebeu. Silêncio desconfortável. Ele batuca na mesa. Ele vira pra ela.

- Sabe, eu realmente tava com saudades.
- É?
- É.
- Achei que você não quisesse me ver nem pintada de... Sei lá, qualquer cor.
- Eu fiquei puto sim, no começo. Mas o tempo apaga essas coisas e deixa as boas.
- O tempo.
- As coisas boas. Sempre penso em você.

Pra onde vai isso? Bebe água.

- Eu sei que você não quer namorar um homem.
- Pois.
- Mas também sei que você gostava de transar comigo.
- ...
- Você não tava fingindo. Tenho certeza.
- ...

Ele tinha razão. Mas sexo é tão mais que sexo.

- Você tinha fome de mim.
- Pedro...
- Diz que não.
- Pára.
- Diz.
- Pára, Pedro.
- Pedro, pára. Tá. Mas pensa, Melissa. Não é perfeito?
- O que?
- Você não quer me namorar, mas também não pode. Eu sou casado.
- É. Perfeito.
- Espera. Você gosta de transar comigo e eu com você. E nenhum de nós quer namorar. Tá seguindo?
- ...
- Não é perfeito?
- Chega disso, eu vou embora.
- Não, espera. Dá sua mão.

Ela não dá. Ele pega mesmo assim. Olha tão dominante que ela sente que vai entrar naquele modo que odeia, mas gosta.

Ele traz a mão devagar e sempre até seu pau. É como se estivesse banhada em gasolina e alguém acende um fósforo. Não tira a mão. E só de deixar lá, imóvel, já sente o relevo mudando.

- Abre meu zíper.

Obedece. Enfia a mão. Esfrega impercetívelmente. Ouve a respiração dele mudar, os olhos ficarem vidrados, o pau cada vez maior. Fica impressionada, sempre fica, como se fosse a primeira vez, com a quantidade de reações óbvias, claras, múltiplas, em diferentes lugares do corpo, que os homens têm. É tão confortável conseguir uma resposta física sem esforço. Esfrega mais.

Quando chega dentro da cueca Mel enche a mão ao redor daquele pau enorme e duro. Sua própria respiração acelera. Tenta controlar, acha que vai sufocar, não quer que ele perceba. Mexe para cima e para baixo, devagar, e mais rápido, até que o movimento se torna estranho, solto. Tira a mão de dentro da calça e aquele pênis vem junto, fora do corpo. Primeiro ela pensa, "gente, acho que arranquei o pinto dele", e depois grita horrorizada. Acorda no meio do grito.

Caralho. Pesadelo. De novo. Com um caralho. Eles voltaram. Ofegante e assustada. tateia procurando se reorientar, acordar completamente, sair dessa lama negra, queria enxergar o que estava ao redor, o carro, o camping, as ruas, as árvores, se situar nesse seu já familiar desequilíbrio emocional.

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