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segunda-feira, setembro 01, 2008

CLOSET


30




Melissa encara a samambaia de escritório. Não consegue se concentrar. Não consegue pensar. Talvez deva passar umas horas na sala Amélia Truewoman. Talvez elas estejam certas sobre a natureza da mulher. Talvez.

A Sra. Closet abre a porta daquele jeito decidido.

- Comigo!

Nada a fazer a não ser segui-la pelos corredores até a... Mas esta é a sala de Ali. Oh, oh.

Quando abrem a porta Ali está com o grampeador na boca, se assusta e grampeia a língua. Guarda a arma e disfarça. Sente o gosto metálico do sangue. O que aquela mentirosa estava fazendo na sua sala? Sra Closet puxa uma cadeira e faz Melissa sentar.

- O negócio dos sites, preciso de um parecer amanhã de manhã. Mas vocês vão ter que trabalhar na casa de uma das duas porque o escritório vai ser dedetizado. Vou tentar achar a Naty pra ajudar. Na casa de quem?

As duas mudas. Closet olha de uma para outra.

- Na casa de quem?

É uma guerra e nenhuma delas pretende ceder. Mel não tem casa. Ali sabe e não oferece a sua de propósito.

- Se eu perguntar em outra língua ajuda?

Ali desiste.

- Na minha.
- Ótimo.

Sai da sala. Ali vira pro computador, finge que trabalha. Sua língua dói.

- Que horas, Ali?
- Sete.
- Quer que eu leve alg...
- Não.
- Ok.

Mel sai derrotada. Não sabia o que era pior, não ver Ali ou ver Ali desse jeito.

***

Chega no endereço as 7:15 nervosa. E se Pedro estivesse lá? As duas já trabalhavam e bebiam vinho sobre pilhas de papéis. Naty não é exatamente um exemplo de concentração. Puxa assuntos aleatórios e atrasa o processo.

- E cadê o Pedro?
- Foi passar a semana com os pais no interior.
- Adooooro quando meu marido viaja. Posso ficar sem tomar banho!

E serve mais vinho. Mel não sabe se elas jantaram antes mas ninguém fala em comer. Resolve ir devagar com a bebida. As outras duas viram cálices e mais cálices. Por volta da meia noite tinham coberto apenas um terço do trabalho mas Naty já dava sinais de incoerência. Ali também já prestava atencão em qualquer coisas, menos nos papéis.

Aí Naty tira a blusa e se joga no chão reclamando de calor. Muito mais pela estranheza do gesto do que pela nudez, Melissa olha. Quando percebe está sendo fuzilada mentalmente por Ali. Tenta disfarçar, pega um dos papéis e finge ler por uns dois minutos até notar que a folha está de cabeça para baixo. "Damer, damer, damer, damer", é tudo que ela consegue pensar.

Por volta da 1h Melissa é a única que ainda tenta falar de trabalho mas é solenemente ignorada. Naty a essa altura está só de sutiã e calcinha e até que tem um corpinho bonitinho, por mais que Mel tente não ver. Ali está de cartola. Talvez seja melhor beber mesmo.

As 2h Naty está de quatro sobre a mesinha de centro e Ali bebe água direto da garrafa com um bigode falso pintado com lápis de olho. Melissa pensa que precisa comer e vai até a cozinha. Volta com uma tigela de queijo em cubinhos e um pacote de batatas chips, que são devorados em questão de segundos. Naty canta usando uma garrafa vazia como microfone. De repente ela olha para a garrafa como se descobrisse a verdadeira utilidade daquele objeto.

- E se a gente fizesse o jogo da verdade?

"Pronto", Melissa pensa, "agora sim não tem como piorar."

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