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sábado, setembro 06, 2008

CLOSET


33


Melissa chega no escritório para mais um dia de trabalho na Closet & Closet Associadas. Já na porta dá uma erguida no nariz porque é tudo que lhe resta. O que vai dizer quando perguntarem do parecer que tinham que entregar hoje de manhã? O que vai dizer quando perguntarem por Ali? Ok. Sem pânico antes da hora. Pé direito na recepção, hora de atravessar o silêncio do escritório.

Aliás, o silêncio do escritório. Ela presta atenção, força o ouvido. Está todo mundo quieto. Concentrado. Trabalhando. Mas que coisa estranha. Ninguém fazendo fofoca, dando bom dia ou assistindo You Tube. É o silêncio mais escandaloso que já vira. Entra na sua sala e fecha a porta. No assento da sua cadeira tem uma almofada com a cara de Ali impressa.

Puta que pariu, Naty.

Naty tinha acordado do coma alcoólico no meio da função, viu os bombeiros por lá e deu pra um deles na escada de incêndio (a ironia). O palhaço deve ter contado pra ela, que por sua vez contou para todo mundo. Melissa beija a almofada. Pega um cronômetro que tem dentro da gaveta, aciona e deposita ao lado do porta-canetas. Não faz mais nada, só imagina quantos segundos ainda vai durar naquele emprego.

27, 28, 29, 30, 31...

A porta abre. Uma mulher com um saco de papel na cabeça entra correndo. Tira o saco. É Naty.

- Bom ver você, vai me esclarecer algumas coisas. Pode começar por esse saco na sua cabeça.
- Você acha que eu quero ser vista entrando na sua sala, sua estrupadora?
- Estupradora.
- Foi o que eu disse.
- Não foi.
- Você entendeu. Eu sinceramente não tenho nada a ver com a sua vida, por mim você dá pra quem quiser, e a Ali também, embora eu ache que ela deve ter lambido um sapo ontem pra ficar tão louca de uma hora pra outra. Mas o que eu não admito é que você, com tanto tempo e espaço disponível nessa cidade, tenha resolvido chamar a Ali de bicicleta e sentar no selim E AINDA POR CIMA CHAMAR OS BOMBEIROS PRA ASSISTIR, bem no dia em que eu tava lá. Agora me fala, o que é que eu digo pras pessoas? Que eu tava desmaiada de tanto beber e não vi nada?
- Ué, mas não foi isso que aconteceu?
- Você é burra? Eu não posso contar a verdade! Claro, eu posso inventar qualquer merda mas sempre vai existir sombra, a suspeita, Naty, a última pessoa a ver Alice viva antes de você embucetar ela!
- Ela não morreu, só quebrou duas costelas. E não foi culpa minha.
- Foi minha?
- Ué, quem começou com essa história de vinho e jogo da verdade?
- Ah, tá! Foi tudo por minha causa então?
- Se a gente tivesse tranquilamente trabalhando nada disso teria acontecido. E tem mais, Naty, se você tá tão preocupada com o que os outros tão pensando, por que foi espalhar a história?
- Eu não espalhei história nenhuma.
- Como não? Como você explica o silêncio chocado de todo mundo? Como você explica isso, ela pergunta mostrando a almofada. Naty tem pequeno descontrole e ri.

- Não tem graça.
- Não mesmo, mas sei lá, tem um pouco.
- Se você não contou como é que eles sabem?
- Lê o jornal.

Vai embora deixando Mel com a pressão baixa. Jornal? Não sabe se quer ver. Deve ter sido um dos bombeiros. A notícia diz o seguinte:


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