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domingo, novembro 09, 2008

CLOSET


39


A menção do nome de Melissa, a menção de estar comendo Melissa desarma Ali. Ela troca o peso de perna e perde o foco dos olhos. Pensa em comer Melissa, pensa como é sentir ela em sua mão e aí - e aí - e aí?
A mão que estava na testa desce pra boca e ela quase tem vontade de rir mas se controla, e o riso á a única coisa que ainda controla. Treme dos pés à cabeça, não sabe pra onde virar, não sabe mais nada.

O que ela vai dizer? Pra quem não consegue pensar em nada além de sexo ela até que se sai bem. Afinal, é advogada.

- Eu acho que vocês foram longe demais.

Glen inclina a cabeça maternal. Ali não sabe o que fazer e em que posição parar. O certo seria ir embora. Mas ela não vai. Inexplicavelmente.

- E se você não tivesse encontrado Melissa? E se não tivesse tido a clareza de reconhecer o que sente por ela? E se você não tivesse se encontrado?

Ali arregala os olhos. Sai da sala. Anda pelos corredores meio desorientada. Acha a porta da sala Amélia Truewoman. Entra. Olha tudo aquilo girando ao redor dela, a pia, o homem, o som do bebê chorando. Sente um aperto no peito, uma ânsia e uma vontade de gritar e correr. Não havia nada de errado com a cena. Havia com ela.

Corre, pára na frente do escritório de Glen e Roberta. Pela fresta consegue ver as duas lá dentro, na mesma posição, sem se falar. Ainda não. Ainda não tem coragem de entrar. Vai embora, deixa o prédio, caminha até o camping onde Melissa mora. Ela mora num carro, Ali sorri chorando, num carro. Se esconde atrás de uma árvore e espia o amor da sua vida em seu lar.

A porta do carro abre e Melissa cai com a testa no chão. Levanta meio tonta, vestindo um jeans 5 tamanhos maior que ela, uma camiseta amarela velha, um rabo de cavalo torto, despenteado. Melissa pega no carro uma garrafa de vinho, senta no chão encostada na roda e bebe do gargalo. Ela sacode o pé e canta, muito mal. Bebe de novo. Gole grande demais, escorre pelo queixo, pescoço, mancha a camiseta. Ali tem vontade de lamber, mas decide ficar só olhando aquele momento íntimo. Sente que está traindo a confiança de Melissa, que não sabe que está sendo observada. Acha que deve ir embora e preservar a privacidade dela. Mas não consegue.

Ela vê a cena como se fosse um sonho. Melissa ajoelhada se estica pra dentro do automóvel e liga o som. Toca Suede, Everything Will Flow. Ela começa a dançar. Completamente bêbada, com a garrafa na mão, sem sapatos no chão de terra. Tira a camiseta. Bebe mais vinho. Derrama mais vinho. Gotas escorrem pelo tórax, pelo braço. Ela lambe o próprio antebraço. And everything will flow. Como as gotinhas vermelhas que descem pela sua pele e entram pela sua calça. Ela outra vez se estica pra dentro do carro. No meio do caminho se desequilibra e cai. Volta, cambaleante. Insiste. Pega algo de trás do banco. Uma caneta, dessas de escrever em CD. Dança com ela. E escreve no próprio corpo. Fuck me Ali.

Ali que já estava excitada com a dança faz uma poça no chão atrás da árvore. Abre a calça e pensa que sua mão é de Melissa. No fundo é. Toda ela é. Goza com Melissa, sem saber, dentro dela.

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