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segunda-feira, novembro 10, 2008

CLOSET

40



Ali acorda horas depois com as costas doendo, encostada na árvore. Espia o carro. Melissa dorme no banco do motorista, a boca aberta, ainda segurando a garrafa. Ali fica eternecida e foge enquanto é tempo.

*

Em casa dorme mais duas horas na cama. Acorda com Pedro chegando. Ele tenta perguntar o que tinha acontecido mas ela não responde. São 11 da noite. Ele dorme. Ela sai pensando que precisa comer Melissa. Estava escrito.

Ela sabe pra onde está indo, embora não saiba que sabe. Mas a uns 50 metros já percebe a placa e é hora de tomar a decisão. Tem tanta gente na rua que ela acha que não vai ter coragem. Agora faltam só três passos. Foda-se. Ali entra na sex shop.

Uma prateleira cheia de vídeos com mulheres em fotos degradantes não é exatamente uma imagem de boas vindas. Ela procura o corredor mais afastado do balcão central. Vibradores. Olha todos. Tenta ganhar tempo pra se acostumar ao ambiente. Fica meio puta. Por que vibradores são todos tão feios? Passa pra sessão dos dildos. E entende. Nada que é baseado num pau pode ser estéticamente bonito. Pau é uma coisa funcional.

Olha pro lado e vê as bucetas artificiais. Não muito melhor. Mas pelo menos não sacodem.

- Posso ajudar?

Ela pula. Ao lado dela tem um caralho de 1m70. Quer dizer, um homem magro e alto e sem pelo algum. Ela pensa que um cara desses deveria ser proibido de trabalhar numa sex shop.

- Não, obrigada, tô só olhando.
- Ok.

Ele vira.

- Moço, quer dizer...
- Sim?

Gente o que ela vai dizer?

- Eu preciso de ajuda.
- Às suas ordens.
- Mas não sei se você é a pessoa certa. Sem ofensas.
- Não estou ofendido. O que você procura?
- Eu...

Ele nada.

- Eu...

Ele teria levantado a sobrancelha se tivesse. Ali se entrega.

- Eu preciso comer uma moça.
- Claro.

Com ela atrás pensando "como assim, claro?" ele anda até o outro lado da loja e abre um armário de vidro. Tira um plástico com tiras de couro dentro.

- Eu poderia te vender os mais caros que já vem completos, mas esse cinto aqui é muito mais confortável. Sente esse couro.

Ali quase tem nojo de tocar nas coisas. Mas pensa que elas ainda não foram usadas. Sente o couro. Realmente macio.

- Esse harness não foi desenhado pra filmes pornôs. Foi desenhado pra mulheres de verdade.

Tudo isso acariciando o material com o indicador e o dedão. Ali se sente numa loja de tecidos.

- É pra você?
- Hm?

Mas que pergunta.

- Pra você?
- ...
- Você que vai vestir o cinto?

Ela não sabe o que responder. Mas acha que sim.

- Acho que sim.

Ele olha pra cintura dela, que não sabe onde se enfiar. Não quer pensar na palavra enfiar naquele estabelecimento.

- Não tenho certeza se P ou M.
- Hã?
- Olha.

Ele veste o harness por cima da calça e começa a puxar tiras. Ali está à beira de desistir. Nunca pensou que sex shops tivessem vendedores. Achava que era uma coisa mais privada, sei lá, com cabines pra pagar e vidros espelhados pra esconder a pessoa do outro lado. Ou funcionários invisíveis.

- Esse é M, fica certo em mim. Tem que ficar firme principalmente na coxa senão o dildo escapa e pode causar o efeito estilingue.
- Efeito estilingue?

Na mesma hora que as palavras saem ela se arrepende.

- Sim, o dildo fica dentro da moça e estica as correias, e quando você puxa o quadril ele volta com força, aí na hora de enfiar de novo erra o bur...
- Tá, tá. Me dá um M.

Ele analisa ela de cima a baixo com a mão no queixo.

- Melhor você experimentar. Toma.

Entrega o cinto pra ela que não se mexe.

- Ah, espera.

Ele corre a um canto da loja e volta abanando um caralho enorme e rosado.

- Cyberskin!

Sob o olhar horrorizado de Ali ele encaixa o dong no cinto e ajuda ela a vestir.

- Olha como caiu bem em você.

Se olhando no espelho cercado de algemas ela pensa "eu tenho três pernas".

***

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