terça-feira, novembro 25, 2008
CLOSET
41
Melissa está oficialmente deprimida. Mas também ficar com pena de si mesma não resolve nada. Ela sai. Sai depois de acordar com a testa apoiada no câmbio do carro no final de uma noite de mau sono, sono de vinho, e os números das marchas não saem da sua testa. Cremes e penteados não resolvem. Decide que vai assim mesmo e se alguém perguntar o que são aquelas marcas vai explicar que é uma enviada do demônio. Ela sinceramente acreditava que era.
Volta ao bar onde viu Renée, ou seria René? Compra luvas cirúrgicas pra tocar nas gorjetas. Joga fora. Fodam-se as milhões de bucetas por onde essas notas já passaram. O que de horrível poderia acontecer com ela? O que de mais horrível? Não sabia se tinha deixado toda sua vida pra trás ou se o contrário.
Ela assiste ao show bebendo vodca e de ipod. Não tem a menor idéia de qual música René(e) dança. Ela ouve Radiohead. I get eaten by the worms and weird fishes. Uma pessoa dança, nunca vai saber se é homem ou mulher, mas a pessoa a reconhece. Por mais que se preocupe em não desprezar a escolha da música para a performance, o que ela precisa ouvir agora é isso, why should I stay here, why should I stay.
Ela pede incontáveis doses e no fim entrega sua carteira pro garçon e diz que não sabe mais o quanto vale nada e que lhe traga toda a bebida que puder pagar.
Aí René(e) desce do palco, arranca um fone (quase com sua orelha direita junto) e ouve. Depois de uns 10 segundos avança a música e coloca de novo no ouvido dela. Thom York ainda canta I hit the bottom and escape.
René(e) tira de um de seus buracos outro ipod, coloca os fones em Melissa, que a essa altura enfiaria até um OB na orelha sem perceber, e ela ouve outra música, muito mais calma, com uma voz doce que diz: it's the ending of a play, and soon begins another, hear the leaves applaud the wind.
René quase amputa sua orelha esquerda retomando o fone e diz:
- Vai embora.
Melissa sai se sentindo ainda pior por não ter conseguido nem ao menos uma noite de sexo destrutivo.
No caminho passa por várias casas de strip, sexo explícito, esse tipo de comércio. Numa delas um sujeito enorme de terno fala com ela. Sempre esses sujeitos enormes de terno, eles são as pessoas mais preconceituosas do mundo.
- Oi moça. Quer ver umas garotas sem precaução?
- Opa se quero.
- De você não cobro nada.
- E quanto paga?
- Aí não tô podendo.
- Posso pelo menos subir no palco?
- Ah pode.
Ele fica com um sorriso safado e Melissa se apaixona por ele.
- Quando eu sair a gente pode casar?
- Sou casado.
- Eu te ajudo a comer sua mulher.
- Feito.
E entra.
É igual ao lugar que René(e) dança, exceto pelo fato de que não têm René(e). Ah, e Melissa não tem dinheiro. Um garçon vem pegar seu pedido.
- Moço, adoraria, mas deixei minha carteira no Porky's.
- Bebe vodca?
E pisca. Melissa diz que sim com a cabeça e se apaixona pelo garçom. Quando ele traz a vodca ela pergunta:
- Quando o show acabar a gente pode casar?
- Putz, mas você já é mulher do porteiro que eu sei.
- Eu te ajudo a comer ele.
- Então tá.
O show não começa, já está rolando, e Melissa olha pensando que aquelas mulheres não sabem de nada. Ela levanta pra dar uma volta, pára na cabine do DJ e fica com o queixo apoiado no cotovelo olhando pro disco girando. A música é péssima mas não dá pra reparar porque a qualidade do som é pior. Melissa começa a repetir pro disco:
- Tudo não passa de barulho, tudo não passa de barulho, tudo não passa de barulho...
- Eu sei, love, mas aqui ninguém suporta silêncio.
Era o DJ sem um dos fones, que na verdade era uma DJ sem um dos fones. Melissa se apaixona pela DJ sem um dos fones.
- Quando você terminar de tocar, a gente pode casar?
- Mas eu sou mulher.
- Eu te ajudo a me comer.
- Eu não como mulheres.
Melissa fica chocada. Sobe no palco e grita:
- DJ, toca Erotica!
A DJ toca. Ela começa a tirar a roupa. Mas comete o erro mais grave de uma stripper principiante. Tenta tirar o all star (ok, uma stripper de all star, tipo pior que o erro mais grave de uma stripper) sem amarrar e pulando num pé só. Cai do palco, bate a cabeça no anel dourado de rubi de um russo que estava assistindo e achando lindo e desmaia.
***
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Melissa está oficialmente deprimida. Mas também ficar com pena de si mesma não resolve nada. Ela sai. Sai depois de acordar com a testa apoiada no câmbio do carro no final de uma noite de mau sono, sono de vinho, e os números das marchas não saem da sua testa. Cremes e penteados não resolvem. Decide que vai assim mesmo e se alguém perguntar o que são aquelas marcas vai explicar que é uma enviada do demônio. Ela sinceramente acreditava que era.
Volta ao bar onde viu Renée, ou seria René? Compra luvas cirúrgicas pra tocar nas gorjetas. Joga fora. Fodam-se as milhões de bucetas por onde essas notas já passaram. O que de horrível poderia acontecer com ela? O que de mais horrível? Não sabia se tinha deixado toda sua vida pra trás ou se o contrário.
Ela assiste ao show bebendo vodca e de ipod. Não tem a menor idéia de qual música René(e) dança. Ela ouve Radiohead. I get eaten by the worms and weird fishes. Uma pessoa dança, nunca vai saber se é homem ou mulher, mas a pessoa a reconhece. Por mais que se preocupe em não desprezar a escolha da música para a performance, o que ela precisa ouvir agora é isso, why should I stay here, why should I stay.
Ela pede incontáveis doses e no fim entrega sua carteira pro garçon e diz que não sabe mais o quanto vale nada e que lhe traga toda a bebida que puder pagar.
Aí René(e) desce do palco, arranca um fone (quase com sua orelha direita junto) e ouve. Depois de uns 10 segundos avança a música e coloca de novo no ouvido dela. Thom York ainda canta I hit the bottom and escape.
René(e) tira de um de seus buracos outro ipod, coloca os fones em Melissa, que a essa altura enfiaria até um OB na orelha sem perceber, e ela ouve outra música, muito mais calma, com uma voz doce que diz: it's the ending of a play, and soon begins another, hear the leaves applaud the wind.
René quase amputa sua orelha esquerda retomando o fone e diz:
- Vai embora.
Melissa sai se sentindo ainda pior por não ter conseguido nem ao menos uma noite de sexo destrutivo.
No caminho passa por várias casas de strip, sexo explícito, esse tipo de comércio. Numa delas um sujeito enorme de terno fala com ela. Sempre esses sujeitos enormes de terno, eles são as pessoas mais preconceituosas do mundo.
- Oi moça. Quer ver umas garotas sem precaução?
- Opa se quero.
- De você não cobro nada.
- E quanto paga?
- Aí não tô podendo.
- Posso pelo menos subir no palco?
- Ah pode.
Ele fica com um sorriso safado e Melissa se apaixona por ele.
- Quando eu sair a gente pode casar?
- Sou casado.
- Eu te ajudo a comer sua mulher.
- Feito.
E entra.
É igual ao lugar que René(e) dança, exceto pelo fato de que não têm René(e). Ah, e Melissa não tem dinheiro. Um garçon vem pegar seu pedido.
- Moço, adoraria, mas deixei minha carteira no Porky's.
- Bebe vodca?
E pisca. Melissa diz que sim com a cabeça e se apaixona pelo garçom. Quando ele traz a vodca ela pergunta:
- Quando o show acabar a gente pode casar?
- Putz, mas você já é mulher do porteiro que eu sei.
- Eu te ajudo a comer ele.
- Então tá.
O show não começa, já está rolando, e Melissa olha pensando que aquelas mulheres não sabem de nada. Ela levanta pra dar uma volta, pára na cabine do DJ e fica com o queixo apoiado no cotovelo olhando pro disco girando. A música é péssima mas não dá pra reparar porque a qualidade do som é pior. Melissa começa a repetir pro disco:
- Tudo não passa de barulho, tudo não passa de barulho, tudo não passa de barulho...
- Eu sei, love, mas aqui ninguém suporta silêncio.
Era o DJ sem um dos fones, que na verdade era uma DJ sem um dos fones. Melissa se apaixona pela DJ sem um dos fones.
- Quando você terminar de tocar, a gente pode casar?
- Mas eu sou mulher.
- Eu te ajudo a me comer.
- Eu não como mulheres.
Melissa fica chocada. Sobe no palco e grita:
- DJ, toca Erotica!
A DJ toca. Ela começa a tirar a roupa. Mas comete o erro mais grave de uma stripper principiante. Tenta tirar o all star (ok, uma stripper de all star, tipo pior que o erro mais grave de uma stripper) sem amarrar e pulando num pé só. Cai do palco, bate a cabeça no anel dourado de rubi de um russo que estava assistindo e achando lindo e desmaia.
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