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segunda-feira, setembro 29, 2008

Meninas, eu estou um pouco atarefada e nao sei se ja comentaram isso por aqui, mas eh que ha 4 dias q eu estou acompanhando a serie espanhoa lesbica Chica busca Chica na Tv Terra. Alguem ja viu? Nossa, a Nines... Nines é beem talentosa.

quarta-feira, setembro 24, 2008

CLOSET


37.

Ali estaciona dando graças a deus por ter quebrado duas costelas. Com isso ganhou duas semanas entre o artigo no jornal e a volta ao escritório. Mas agora estava nervosa. Como seria a reação das pessoas na volta ao trabalho?

Também fazia duas semanas que não falava com Melissa. Duas semanas em que não havia passado um segundo sequer sem pensar nela. Duas semanas sem ela. Quantas mais podia aguentar? A vida era uma merda de vez em quando.

Mal passa da recepção. Já recebe um bilhete dizendo que as Closet a esperam na sala de reuniões.

- Bom dia.
- Sente-se.

Roberta não fala nada. Nunca fala nada. Glen observa sempre antes de falar. De um jeito enervante. E com um sorrisinho de quem viu algo inusitado mas que não vai dizer o que é.

- Bom, Ali, acho que chegou a hora de você sair da Closet.

Ali suspira. Já esperava por isso.

- Eu já esperava por isso.
- Que bom.

O sorrisinho continua lá. Humilhante.

- Eu devo cumprir aviso prévio?
- Não.
- Ok.

Os olhos de Ali se enchem de água. Parece que nada mais vai ser dito. Melhor sair. Elas esperam que ela saia. Levanta-se.

- Obrigada por tudo.
- Sente-se Alice.
- Eu só preciso de uma hora pra limpar minhas gavetas.

Ela não senta mas também não vai a lugar nenhum.

- Senta.

Ela senta.

- Talvez você não tenha entendido o que eu disse.
- Talvez eu tenha.
- Talvez não.
- O que você disse?
- Que está na hora de você sair do Closet. Também conhecido como armário.

segunda-feira, setembro 22, 2008


sexta-feira, setembro 19, 2008

CLOSET

36

Renée e Melissa estão sentadas na mesa de um boteco. Mel pediu uma Coca, mas o garçon trouxe duas cervejas e quatro cachaças.

- Então você gostou do show?
- Gostei.
- Por que?
- Não sei. Foi diferente do que esperava.
- Ah.
- Por que?
- Por que o que?
- Masculino e feminino.
- Por que não?
- Ah, não é o que os homens esperam.
- E por que ser o que os homens esperam?
- Sei lá. Pra ganhar dinheiro.
- Sabe, a minha profissão é uma das poucas no mundo onde eu posso fazer o que eu quero e não o que os homens esperam pra ganhar dinheiro.
- Mas você é uma stripper.
- Pois é.
- Você tem que fazer o que os homens esperam.
- Você acha que eu faço?
- Não.
- Você acha que eu ganho dinheiro?

Pelo que Melissa viu na chuva de gorjetas, Renée ganhou em meia hora mais que ela em um mês.

- Mas como?
- Como o que?
- Se você fizesse o show só de mulher não ganharia mais?
- Não. Eu não sou particularmente interessante, ninguém pagaria muito pra me ver tirar a roupa.
- Então só de homem?
- Aí ninguém teria a permissão social pra me dar gorjetas.
- Então você usa a transformação?
- Não é uma transformação, transformação é roupa e maquiagem, qualquer um pode fazer. Eu sou os dois.
- Como assim?
- Você não me vê fazer maquiagem, colocar barba, tirar peito, colocar peito, virar homem ou mulher. São apenas dois estados. Eu sou homem e mulher.
- E?
- Não existe distorção. Eu estou além da orientação sexual, sem deixar o terreno da sexualidade. Sexo excita, não gênero. É uma coisa libertadora, instintiva, primal e muito sufocada isso que eles sentem. Mas eu tenho as permissões. É o nosso segredinho.
- Minissaia é uma permissão?
- Minissaia é a chave da carteira. Mas o resto é que provoca a generosidade. O que eu ofereço é o reconhecimento de dois sentimentos intrinsicamente humanos.
- Quais?
- Inveja e domínio.
- E o que isso tem a ver com o strip tease?
- Como assim o que tem a ver? Absolutamente tudo.

Melissa vê sentido mas não agora. Muito álcool e ainda chegam mais quatro cachaças.

- Qual sua profissão, Melissa?
- Advogada.
- Você sim faz o que os homens esperam pra ganhar dinheiro.
- Eu trabalho numa empresa que só tem mulheres.
- E?

Pois é. E? Ela lembra da sala Amelia Truewoman, dos treinamentos, e tudo parece muito mais obsceno do que tirar a roupa em público. Melissa era uma prostituta.

- Onde você trabalha?
- Na Closet & Closet Associados.
- Ah!
- Já ouviu falar?
- Já trabalhei lá.
- Já?
- Sim, eu sou advogada por formação. Trabalhei lá por um ano. Foi o que me fez virar stripper.
- Nossa, é demente aquele lugar não é?
- Foi um dos lugares onde eu mais aprendi na vida.

Tudo é muito confuso, a cerveja, a cachaça, aquele buteco, aquelas moscas, a resposta é uma nuvem. Mas no fundo, a noite inteira, só tem uma pergunta que intriga Melissa.

- Renée, no final do show.
- Hm.
- Tem um vulto.
- Um pênis.
- É seu?
- Lógico.

Melissa acha que fez a pergunta errada.

- Naturalmente?
- Ele é meu, Melissa.
- Não, mas você é homem ou mulher?
- E o que um pênis tem a ver com isso?

sábado, setembro 13, 2008

Agora q a Angélica e a Sandy perderam a virgindade, podemos seguir vivendo felizes!
Só falta a menina Maisa, mas essa ainda demora um pouco...

quinta-feira, setembro 11, 2008

A melhor notícia de 11 de setembro!

http://cinema.terra.com.br/interna/0,,OI3174371-EI1176,00-Naomi+Watts+diz+preferir+fazer+cenas+de+sexo+com+mulheres.html

Então, Naomi, eu to pensando nuns roteiros aqui pra fazer um filme, queria q vc
desse uma olhadinha, aproveito e te mostro minha coleção de mp3 da Cat Power la em casa...

terça-feira, setembro 09, 2008

CLOSET


35



Isso é insuportável. Ela desiste. Pega a direita no corredor e anda decidida e puta, cada passo cobrindo um metro e vinte. Nem precisa ignorar a secretária porque a secretária mesmo a ignora. Entra na sala da Presidência. Glen e Roberta estão lá esperando que ela diga alguma coisa.

- Eu me demito.

Ninguém fala nada por 27 segundos, Melissa está com o cronômetro na cabeça. Sem se mexer, Glen fala.

- Ganhei.

Roberta tira uma nota de $50 do bolso e lhe entrega. Melissa não acredita. Larga um sorriso entre o amargo e o sarcástico e vai embora. Nem pega seus objetos pessoais, não quer nada que lembre desse período da sua vida.

Desde o começo ela sabia que ia dar merda. Era óbvio. Naquele primeiro tour pela empresa com Ali já sentiu que essa história tinha tudo pra dar errado. Mesmo assim, ficou. Por que? Ela pára numa esquina desconhecida, cercada de pessoas desconhecidas, oferecendo quatro caminhos diferentes, igualmente desconhecidos.

Ela ficou só pra ter para aonde ir.

***

Melissa deve ter andado umas cinco horas sem destino. A meia-calça estava furada num dos joelhos e tinha perdido um pé do sapato. Já era noite e ela não tinha a menor idéia de onde estava. Era um bairro movimentado, cheio de neons e um comércio suspeito de comida, eletrônicos e jóias. Um toque no braço faz ela parar. É um homem enorme de terno preto. Ele tem cara de estrangeiro mas ela também tem.

- Entra aqui moça, eu dou um desconto.

Aqui, ela espia, é uma porta roxa logo atrás dele. Não dá pra ver o que tem lá dentro. Mas como ele fora a primeira pessoa em sete dias a lhe dirigir a palavra, ela aceita o convite quase chorando de emoção.

O homem de preto chama outro e os dois discutem alguma coisa em uma língua que ela não entende tirando as palavras dólar e Renée. O segundo homem a leva pra dentro, indica uma cadeira e entrega um cardápio de bebidas.

- Vodca com limão.
- E vai querer gorjetas?
- Como?
- Gorjetas. Vai querer comprar quanto?

Ela não entende do que ele está falando.

- Ok, começa com dez, se quiser mais me chama.

Ele entrega dez notas falsas de dinheiro, plastificadas. A mesa fica a sua esquerda, na frente um tipo de palco, tão perto que dá pra apoiar os pés nele. Um sistema de som toca uma dance music do inferno. A vodca chega. É provavelmente a mais horrível que já tomara na vida, mas não se intimida e já pede a segunda. A luz do bar apaga, a do palco fica acesa. Showtime.

Um poste metálico desce e uma mulher fantasma entra com uma flanela e uma garrafa de desinfetante. Ela limpa o poste como se ninguém estivesse vendo, coloca o produto num canto e com a mesma expressão de aborrecimento se joga de perna aberta, gira no pole e fica de cabeça pra baixo.

Melissa não decide se "que bom que alguém falou comigo hoje" ou se "claro, só o porteiro de um club de strip tease falaria comigo hoje".

A garota de saco cheio se contorce acrobática pelo palquinho desinfetado. Os outros expectadores são todos homens. Melissa pensa se eles percebem que a dançarina está entediada. Se eles se eternecem com o fato dela trazer seu paninho e seu desinfetante e tirar os primeiros 30 segundos do seu número pra cuidar de si. Não.

Da metade da música em diante ela vai pro chão e rasteja coreograficamente de mesa em mesa recolhendo gorjetas - as notas falsas que ela recebe e coloca dentro da tanga. Melissa descobre que é por isso que as notas são plastificadas, tem um ataque de nojo e larga as suas imediatamente. A striper recolhe e agradece.

- Posso te oferecer uma lap dance?

Mel ganhou o direito com as dez gorjetas.

- Não, obrigada, não precisa.

Ela não sabe se a moça se sentiu rejeitada ou aliviada ou se não sentiu nada. Provavelmente nada. Não fazia diferença mesmo. Trabalho é trabalho. Ela dança como quem preenche uma planilha de Excel.

Pede mais bebida, uma para cada show. Oito garotas já passaram pelo seu copo quando o DJ anuncia Renée.

A música que começa a tocar já é estranha. Nunca tinha visto alguém tirar a roupa ao som de Blonde Redhead.

Renée entra no palco sem produtos de limpeza e isso deixa Melissa um pouco apreensiva. Mas ela repara, Renée não toca no poste. Dança solta, cheia de curvas, atlética e suave. Deixa a roupa escorregar. Tira só uma parte, pede a alguém que puxe o resto, a manga, a barra da saia, o scarpin vermelho.

Só que debaixo da roupa está outra roupa. Uma camisa, uma gravata, um colete, uma cueca, um volume. E assim ela senta no chão com as pernas abertas, as pernas peludas, a cara completamente diferente, de homem.

Who else is new I want to believe the way you do I still cant see
Love love love love thats all it is try my lines try my tricks
Why be artistic look at me to be linguistic to be domestic
Let me imagine this lasting blasting falling twisting I will be
There and we will dares

Vai para a beira do palco ostentando a si mesma como um galo e afrouxando a gravata, abrindo cada botão, continua o strip como se nada de diferente estivesse acontecendo, tivesse acontecido.

Depois tira a cueca e um vulto está lá, imponente, mas era de verdade ou amarrado? A luz apaga. Centenas de dólares plastificados voam pro centro do palco no escuro. Melissa procura o garçon desesperada, entrega a ele todo o seu dinheiro pra transformar em plástico e jogar em Renée, a luz acende bem na hora em que está arremessando, Renée sorri.

- É muito.
- Não é não.
- Então posso pelo menos te pagar um drink?
- Pode.
- Ok, mas não aqui, esse lugar é nojento. Me encontra lá fora em dez minutos.

segunda-feira, setembro 08, 2008

http://br.cinema.yahoo.com/noticias/20055

Vcs concordam, ponto de interrogacao.(roubaram o meu)

CLOSET


34


345.619, 345.620, 345.621, quatro dias e nada. Mas nada, nada mesmo. Ninguém entra na sala, ninguém passa trabalho, cobra resultados, pergunta as horas, oferece café, faz piada, cumprimenta, esbarra, rouba canetas, a empresa inteira parece estar ignorando solenemente sua existência. Quando sai no corredor todo mundo desaparece. O telefone não toca, o email só pisca pra oferecer viagra ou vinte milhões de dólares da família real Nigeriana. Nenhuma comunicação da Sra. Closet.

Ou de Ali.

Melissa pega o telefone pra pensar com ele na mão. Liga ou não liga? Será que ela viu a matéria no jornal? Pedro viu? Se sim, teria deduzido que a denominada vítima era sua esposa? Se sim ou se não, como estavam reagindo? Por que ela não ligava? O que tinha acontecido? Loucurinha de quem bebeu demais? Ou não? Ou sim?

Disca os números porque tinha que saber. Talvez Ali estivesse esperando que ela tomasse a iniciativa mesmo.

- Alô?
- Ali? Tudo bem?

Silêncio. Não ouve nem a respiração do outro lado da linha. Morreu?

- Ali?
- Desculpa, eu não posso falar agora. Te ligo quando puder tá?
- Tá. Desculpa. Bei...

Tu-tu-tu-tu-tu.

Melissa quer que qualquer coisa aconteça. Mesmo uma demissão por justa causa seria melhor que isso.

351.412, 351.413, 351.414...

sábado, setembro 06, 2008

CLOSET


33


Melissa chega no escritório para mais um dia de trabalho na Closet & Closet Associadas. Já na porta dá uma erguida no nariz porque é tudo que lhe resta. O que vai dizer quando perguntarem do parecer que tinham que entregar hoje de manhã? O que vai dizer quando perguntarem por Ali? Ok. Sem pânico antes da hora. Pé direito na recepção, hora de atravessar o silêncio do escritório.

Aliás, o silêncio do escritório. Ela presta atenção, força o ouvido. Está todo mundo quieto. Concentrado. Trabalhando. Mas que coisa estranha. Ninguém fazendo fofoca, dando bom dia ou assistindo You Tube. É o silêncio mais escandaloso que já vira. Entra na sua sala e fecha a porta. No assento da sua cadeira tem uma almofada com a cara de Ali impressa.

Puta que pariu, Naty.

Naty tinha acordado do coma alcoólico no meio da função, viu os bombeiros por lá e deu pra um deles na escada de incêndio (a ironia). O palhaço deve ter contado pra ela, que por sua vez contou para todo mundo. Melissa beija a almofada. Pega um cronômetro que tem dentro da gaveta, aciona e deposita ao lado do porta-canetas. Não faz mais nada, só imagina quantos segundos ainda vai durar naquele emprego.

27, 28, 29, 30, 31...

A porta abre. Uma mulher com um saco de papel na cabeça entra correndo. Tira o saco. É Naty.

- Bom ver você, vai me esclarecer algumas coisas. Pode começar por esse saco na sua cabeça.
- Você acha que eu quero ser vista entrando na sua sala, sua estrupadora?
- Estupradora.
- Foi o que eu disse.
- Não foi.
- Você entendeu. Eu sinceramente não tenho nada a ver com a sua vida, por mim você dá pra quem quiser, e a Ali também, embora eu ache que ela deve ter lambido um sapo ontem pra ficar tão louca de uma hora pra outra. Mas o que eu não admito é que você, com tanto tempo e espaço disponível nessa cidade, tenha resolvido chamar a Ali de bicicleta e sentar no selim E AINDA POR CIMA CHAMAR OS BOMBEIROS PRA ASSISTIR, bem no dia em que eu tava lá. Agora me fala, o que é que eu digo pras pessoas? Que eu tava desmaiada de tanto beber e não vi nada?
- Ué, mas não foi isso que aconteceu?
- Você é burra? Eu não posso contar a verdade! Claro, eu posso inventar qualquer merda mas sempre vai existir sombra, a suspeita, Naty, a última pessoa a ver Alice viva antes de você embucetar ela!
- Ela não morreu, só quebrou duas costelas. E não foi culpa minha.
- Foi minha?
- Ué, quem começou com essa história de vinho e jogo da verdade?
- Ah, tá! Foi tudo por minha causa então?
- Se a gente tivesse tranquilamente trabalhando nada disso teria acontecido. E tem mais, Naty, se você tá tão preocupada com o que os outros tão pensando, por que foi espalhar a história?
- Eu não espalhei história nenhuma.
- Como não? Como você explica o silêncio chocado de todo mundo? Como você explica isso, ela pergunta mostrando a almofada. Naty tem pequeno descontrole e ri.

- Não tem graça.
- Não mesmo, mas sei lá, tem um pouco.
- Se você não contou como é que eles sabem?
- Lê o jornal.

Vai embora deixando Mel com a pressão baixa. Jornal? Não sabe se quer ver. Deve ter sido um dos bombeiros. A notícia diz o seguinte:


terça-feira, setembro 02, 2008

CLOSET



32



Ali volta do desmaio deitada no sofá. Melissa deve ter acomodado ela ali e agora sai de fininho do apartamento. Não pode deixar. Cata a cartola e corre atrás.

Toda a cena a seguir se desenvolve em slow motion e com câmera de alta definição.

Melissa está dentro do elevador, as portas começando a fechar. De repente no fundo do corredor a silhueta atlética de Ali faz a curva correndo. Quanto mais os olhos de Melissa se abrem surpresos, mais Ali se aproxima, de jeans justo e sutiã preto, bigode pintado e chapéu de mágico.

Mel começa a entender que Ali está vindo atrás dela. Tem que parar o elevador, acionar o botão de abrir portas, mas qual seria naquele mar de andares e comandos? Tenta um vermelho, um alarme soa, ela grita de susto, soca o verde, o alarme pára, a porta continua fechando.

Exatamente ao mesmo tempo, da metade do longo corredor Ali salta para cobrir os últimos metros que a separam da mulher da sua vida, projeta os braços pra frente, alça vôo de encontro a ela, para dentro do elevador.

Aí a porta fecha e Ali cai gritando.

- Ai, ai, caralho, ai!

Ela está com metade do corpo pra dentro, metade pra fora, a porta pressionando suas costelas. Pede socorro para uma Melissa em pânico.

- Me ajuda!
- Como?
- Abre a porta!
- Meu deus ela vai te cortar ao meio!

Ela grita, treme, coloca as mãos na cabeça, empurra a porta e toca em Ali ao mesmo tempo.

- Calma, Mel, calma!
- Ali não morre por favor!

Está quase chorando.

- A porta não vai me cortar ao meio. Calma. Isso. Mas você tem que tentar abrir porque eu tô presa.

Melissa força mas não consegue. Chega a ficar vermelha e com a veia da testa saltada.

- Nem se mexe, Ali, e agora?
- Olha no painel, vê se tem um botão de abrir.
- Tem 98 milhões de botões aqui!
- Olha devagar. Um por um. Deve ter um com o desenhinho de duas portas com duas setinhas apontando pra fora.
- Tem.
- Aperta.
- Tô apertando. Não tá acontecendo nada. E agora?
- Agora eu vou ter que ficar aqui pra sempre e você vai ter que me trazer comida, bebida e me dar banho todo dia.

Mel olha pra ela deitada no chão e chega a pensar que não seria uma má idéia. Depois fica envergonhada pela sua histeria. Ali presa e provavelmente machucada estava controlando a situação, fazendo piada e a ajudando a se acalmar, enquanto deveria ser exatamente o contrário. Precisa tentar mais. Se coloca na brecha aberta da porta e empurra um lado com as costas e o outro com o pé. De saia. Ali está exatamente embaixo, com vista pra sua calcinha.

- Eu podia morrer aqui.
- Você quer sair ou não?
- Não sei mais...
- Ali fica quieta.
- Sim senhora.

Nada. A porta travou naquela posição. Melissa senta de novo e examina o tórax de Ali.

- Você tá machucada?
- Acho que não.
- Não dói?
- Ui! Um pouco.
- Vou chamar os bombeiros.

Tira o celular da bolsa e liga, dá o endereço e explica a situação. Guarda o telefone e começa um cafuné pra passar o tempo.

- Você fica bem de bigode.
- Merda, esqueci.

Se olham, cada uma tentando decifrar o significado do olhar da outra. Ali estica o braço, alcança o pescoço de Mel e puxa pra perto.

- Vem cá.

Se beijam. Mesmo deitada no chão, presa e machucada ela consegue espalhar suas mãos pela nuca e costas de Melissa, enfiar por baixo da blusa e encontrar seus seios. Sente Mel inspirar rápido com o toque, os mamilos ficarem duros, a pele arrepiada, e depois tensa.

- Ali, que é isso...
- Fica aqui.
- Eu não vou a lugar nenhum mas pára.
- Não.

Tenta se esquivar, Ali não deixa. Segura seus tornozelos, Melissa cai sentada.

- Abre as pernas.
- Não!

Ali faz abrir. Cega de tesão e sabendo que não é a única segura Mel com a mão esquerda e invade sua calcinha com a direita. Está molhada, muito molhada.

- Cancela os bombeiros.
- Mas eu tô pegando fogo.
- Deixa que eu apago. Chega mais perto.

Mel chega mais perto.

- Mais.

Mais.

- Quero saber que gosto você tem.

Ela ajoelha no rosto de Ali que beija como se fosse uma boca, primeiro lábio no lábio, o de cima provocando o de baixo e vice versa, se esfregando e experimentando, depois com a língua, não com a ponta, com ela toda, gorda e molhada, tateando, experimentando, esfregando, depois de novo com os lábios e sentindo Melissa escorregar e escorrer, e mexer devagar.
Melissa sente as mãos firmes nos seus quadris e a boca lambendo, comendo, devorando, o mundo ao redor apagando e desaparecendo, os olhos fechando e tudo se transformando nessa sensação que cresce de baixo pra cima, vem da boca da outra, entra pelo sexo, sobe pelo estômago, retorce o diafragma, não deixa respirar, aperta o peito, acumula na garganta e explode, essa parte se chama orgasmo, vira um grito, uma sério de gritos e gemidos, e desaparece aos poucos quando tudo começa a clarear e a voltar a ser o que era.

Abre os olhos.

Os bombeiros estão lá, com umas caras de espanto e a mangueira na mão.

segunda-feira, setembro 01, 2008

CLOSET


31


Naty joga no chão todos os papéis que estão na mesinha de centro. Melissa ficas desolada, uma por ver o processo inteiro se espalhar, milhares de folhas fora de ordem, outra porque nada de bom pode vir de um jogo da verdade. A garrafa gira. Ali pergunta pra Melissa.

- Você já beijou alguma mulher?

Filha da puta.

- Eu não tô na brincadeira.

Naty está tão excitada com a história que não percebe a querela.

- Ê, não tem essa, tá na sala tá na brincadeira. Vai.
- Então vou girar a garrafa.
- Já tá girada e perguntada. Responde!
- Eu não lembro da pergunta.
- Nem eu. Qual era mesmo?
- Se ela já beijou uma mulher.

Que se foda.

- Já.
- Aaaaaaahhhhhhhhhhh, Naty grita e bate palminhas. Ainda pulando ela gira a garrafa. De novo a mesma posição. Melissa suspira e revira os olhos. Ali pergunta impiedosa.

- Você é lésbica?
- Ai meu deus não acre-di-tô, Naty se abana com a mão depois bebe vinho no gargalo.

Melissa fecha os olhos e aperta o nariz tentando pensar. Naty está impaciente.

- Responde amiga, anda, também quero jogar!
- Sou.

Ali arregala os olhos. Não esperava que Melissa contasse a verdade, apesar do nome do jogo. Naty espera a continuação da piada, que não vem, porque não é uma piada.

- Fala sério Mely.
- Você não queria jogar? Gira logo esse treco.

Por sorte o cérebro da outra está imerso em álcool e ela esquece o assunto. A garrafa pára de novo apontando pra Melissa, mas dessa vez é Naty que pergunta.

- Se fosse pra ficar com alguém dessa sala com quem você ficaria?

Nem as perguntas do vestibular eram tão difíceis. Melissa franze a sobrancelha e considera suas opções. 1. Simular um ataque de capalepsia. 2. Puxar uma espada e decapitar as duas. 3. Naty. 4. Ali.

- Você.

Naty grita e se joga no chão gargalhando de orgulho. Ali não. Melissa quase jura que ela ficou triste. Gira a garrafa. Ali pra Mel.

- Eu de novo? Não vale.
- Por que?
- Porque só eu respondo!
- Não, essa foi a pergunta. Por que ela?

Naty aperta os peitos com as mãos como quem faz uma espanhola, rebola e dá palmadas na própria bunda.

- Por causa disso, baby, 100% carne de vaca.

Melissa cobre a boca com a mão e olha pela janela. Enquanto simula uma pole dancing Naty não deixa Mel esquecer da pergunta.

- Responde, gata.

Mel responde baixinho pra Ali.

- Porque você não deixaria.


***

Naty está curtindo um coma alcoólico debaixo do sofá enquanto Ali joga garrafas vazias no lixo e Mel junta papéis.

- Deixa isso.

Melissa se deixa cair no chão, depois solta os papéis.

- Que adianta juntar, vou perder meu emprego mesmo.
- Por que?
- Por não terminar o relatório, por perder documentos, por beber no trabalho, por ser lésbica, etc.
- Por que você não mentiu, era só um jogo!
- Não podia.
- Por que não? Todo mundo...
- Eu prometi que nunca mais ia mentir pra você.

Ali acha que vai desmaiar. E desmaia.

CLOSET


30




Melissa encara a samambaia de escritório. Não consegue se concentrar. Não consegue pensar. Talvez deva passar umas horas na sala Amélia Truewoman. Talvez elas estejam certas sobre a natureza da mulher. Talvez.

A Sra. Closet abre a porta daquele jeito decidido.

- Comigo!

Nada a fazer a não ser segui-la pelos corredores até a... Mas esta é a sala de Ali. Oh, oh.

Quando abrem a porta Ali está com o grampeador na boca, se assusta e grampeia a língua. Guarda a arma e disfarça. Sente o gosto metálico do sangue. O que aquela mentirosa estava fazendo na sua sala? Sra Closet puxa uma cadeira e faz Melissa sentar.

- O negócio dos sites, preciso de um parecer amanhã de manhã. Mas vocês vão ter que trabalhar na casa de uma das duas porque o escritório vai ser dedetizado. Vou tentar achar a Naty pra ajudar. Na casa de quem?

As duas mudas. Closet olha de uma para outra.

- Na casa de quem?

É uma guerra e nenhuma delas pretende ceder. Mel não tem casa. Ali sabe e não oferece a sua de propósito.

- Se eu perguntar em outra língua ajuda?

Ali desiste.

- Na minha.
- Ótimo.

Sai da sala. Ali vira pro computador, finge que trabalha. Sua língua dói.

- Que horas, Ali?
- Sete.
- Quer que eu leve alg...
- Não.
- Ok.

Mel sai derrotada. Não sabia o que era pior, não ver Ali ou ver Ali desse jeito.

***

Chega no endereço as 7:15 nervosa. E se Pedro estivesse lá? As duas já trabalhavam e bebiam vinho sobre pilhas de papéis. Naty não é exatamente um exemplo de concentração. Puxa assuntos aleatórios e atrasa o processo.

- E cadê o Pedro?
- Foi passar a semana com os pais no interior.
- Adooooro quando meu marido viaja. Posso ficar sem tomar banho!

E serve mais vinho. Mel não sabe se elas jantaram antes mas ninguém fala em comer. Resolve ir devagar com a bebida. As outras duas viram cálices e mais cálices. Por volta da meia noite tinham coberto apenas um terço do trabalho mas Naty já dava sinais de incoerência. Ali também já prestava atencão em qualquer coisas, menos nos papéis.

Aí Naty tira a blusa e se joga no chão reclamando de calor. Muito mais pela estranheza do gesto do que pela nudez, Melissa olha. Quando percebe está sendo fuzilada mentalmente por Ali. Tenta disfarçar, pega um dos papéis e finge ler por uns dois minutos até notar que a folha está de cabeça para baixo. "Damer, damer, damer, damer", é tudo que ela consegue pensar.

Por volta da 1h Melissa é a única que ainda tenta falar de trabalho mas é solenemente ignorada. Naty a essa altura está só de sutiã e calcinha e até que tem um corpinho bonitinho, por mais que Mel tente não ver. Ali está de cartola. Talvez seja melhor beber mesmo.

As 2h Naty está de quatro sobre a mesinha de centro e Ali bebe água direto da garrafa com um bigode falso pintado com lápis de olho. Melissa pensa que precisa comer e vai até a cozinha. Volta com uma tigela de queijo em cubinhos e um pacote de batatas chips, que são devorados em questão de segundos. Naty canta usando uma garrafa vazia como microfone. De repente ela olha para a garrafa como se descobrisse a verdadeira utilidade daquele objeto.

- E se a gente fizesse o jogo da verdade?

"Pronto", Melissa pensa, "agora sim não tem como piorar."

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